Capítulo 27




_Yasmim, acorda!

   Túlio me cutucava enquanto eu tentava fazer as series de alongamento antes da apresentação. Aquela semana passou tão rápida que nem percebi, agora estava lá, minutos antes de minha apresentação começar.

   Olhei para meu celular, eu e Vitor trocamos mensagens rápidas naqueles dias, apenas queria ele ali, na platéia, mas já tinha me avisado na ultima mensagem, no dia anterior, que não poderia vir.

_Todos prontos? – Dona Marly apareceu. – Vamos lá meus meninos.

   Fomos para o palco do teatro, eu estava nervosa, mesmo depois de anos fazendo aquilo, algo ainda mexia comigo, achava que iria errar todos os passos. Posicionei-me e as cortinas abriram.



Victor...

    Meu corpo estava naquela reunião, mas minha mente e meu coração estavam juntos com Yasmim. Estava com muita saudade dela, dos seus beijos, seu jeito de menina ousada, minha garota tentação.

  Pausamos na reunião, fui até a maquina de café, Leo veio atrás.

_O que houve? Você estava tão assim, pensativo, não prestou atenção em nada.
_Yasmim, hoje é a apresentação dela no balé.

  Ele fez um meio riso.

_O que foi? Tá rindo da minha cara ou o que?
_É estranho sabe, você de caso com uma menina e não uma mulher.
_Até eu estou me assustando, Leo. – Tomei um gole do café. – Não sei, mas ela mexe comigo sabe? – Soltei o ar que prendia em meus pulmões – Só queria estar lá essa noite.
_Vai, eu seguro as pontas.
_Impossível Leo. Esquece.
_Estou te falando, vai lá. Qualquer coisa te ligo.

   Não sabia mais o que estava fazendo, meu corpo já se encaminhava para casa, peguei minha mala e acionei o piloto do Jatinho. Estava tão feliz por vê-la, abraçá-la, eu queria estar do lado dela nesse momento.

   Apenas parei em um hotel para tomar um banho e ir procurar saber onde seria a apresentação de Yasmim, peguei meu carro, parei em uma floricultura aberta e fui para o teatro. Não estava ligando se estava sem meus disfarces, aquela noite seria dela e ela merecia minha presença ali.

   Estacionei o carro e fui em direção ao teatro, a apresentação estava acontecendo. Ainda na duvida, olhei para o cartaz ali: Senhora Duarte apresenta... O fantasma da ópera”

    Respirei fundo e entrei, o local era perfeito. No palco, sabia que era Yasmim pelo seu corpo e seu cabelo vermelho preso em um coque. Apenas fiquei boquiaberto, a sua desenvoltura, seu jeito no palco, sua delicadeza com os movimentos que parecia estar flutuando. Sentei no último assento e não parava de admirá-la, ela nasceu para fazer aquilo, a dança era seu dom. Queria gritar, dizer que ela estava divina, olhava ao redor, alguns me olhavam estranhos e a vontade que eu tinha de dizer era: Hei, tá vendo aquela garota ali? Ela é minha, completamente minha.

  Quanto mais tempo durava aquela apresentação, mais eu sentia vontade que se esticasse pela eternidade, porém, a apresentação acabou, as cortinas se fecharam, abriu novamente para eles agradecerem. Fiquei de pé e bati palmas, ela merecia, a artista da noite era ela, não eu, nem ninguém, apenas Yasmim brilhou ali no palco.



Yasmim...

   Consegui! Tudo deu certo mais uma vez... Pela ultima vez.

   Já podia sentir as lagrimas no meu rosto ao agradecer ao publico, meus colegas de palco me deram um abraço coletivo e apenas fechei meus olhos agradecendo por tudo.

_Por favor, permaneçam sentados, preciso falar algo. – A voz de Dona Marly ecoou o teatro.

   Ela me puxou e juntas, nós fomos até a ponta do palco. Em momento algum soltou minha mão.

_Yasmim entrou na nossa companhia de balé aos seis anos e em apenas uma aula, mostrou que veio pra ficar. Desde então, ela nunca mais parou, sempre nos mostrando ser uma aluna eficiente. Mas como todo artista, chega uma hora em que temos que descansar a mente e no nosso caso, os pés. – Olhou para mim e rimos. – Hoje foi a ultima apresentação dessa nossa jóia preciosa, Yasmim dará um tempo nas suas atividades para se dedicar ao futuro, mas antes disso, quero lhe dizer que você contribuiu e muito todos esses anos, Yasmim.

   Mais uma vez aplaudiram e naquele momento, não pude segurar minhas lagrimas, apenas abracei Dona Marly e chorei, alguns minutos depois, ela me levou até meu camarim, onde todos já estavam de saída. Minha mãe apareceu e junto consigo Isabela e Flávio.

_Minha flor – Abraçou-me – Minha menina sempre me deixando orgulhosa.
_Para mãe, não quero chorar de novo.
_Acredite, se seu pai estivesse aqui hoje, ele estaria feliz e radiante.
_Tá, mas só quero coisas boas agora. – Me afastei dela para abraçar Isabela
_Parabéns pirralha.
_Obrigada minha irmã querida.

   Ficamos conversando enquanto eu retirava minha maquiagem, alguém entrou no meu camarim.

_Alguém deixou isso pra você.

   Dona Marly entrou com um lindo ramalhete de rosas vermelhas, fiquei boquiaberta. Agradeci a ela e segurei o ramalhete.

_Obrigada mãe. – Abracei-a
_Não fui eu. – Ela me olhou estranho.
_Tem um bilhete aí sua idiota. – Isa sempre sendo “amável”

 Trêmula, abri o bilhete, cada palavra eu sentia o choro vir a tona:





      Bailarina

 

"Amendoado nebular
Aos olhos de notas prontas

Em que o sol crepuscular 
Toca de leve suas pontas

Em dia de sombra azul
Alaranjados tons ao vento calmo

Sagram sua textura de sul

E rezam, em silêncio, seu salmo


É uma vertente singela

O dizer de muitas coisas sem ânsia

Enquanto a música for bela

E a beleza dela, sua dança
."



 Hoje a artista que merece aplausos é você.

 Então, tenha de mim, eternos aplausos e sinta-se abraçada.

 Amo-te, amo teu corpo, amo tudo em você....


Seu eterno amor: Admirador secreto.
 

   Apenas comecei a rir em meio ao choro. Aquela letra, aquelas palavras... Tão a cara do Vitor me surpreender.

_De quem é? – Minha mãe me tirou do transe.
_Nem sei. – Despistei-a – Apenas fiquei emocionada pelas palavras.

   Em minha mente vieram as intermináveis vezes em que eu e Vitor nos amamos naquele fim de semana. Eu estava definitivamente apaixonada pelo meu ídolo como pessoa fora do palco, longe da vida corrida de “artista”.

   Fui acordada do transe por Ariane e Larissa que entraram já me abraçando.

_Tu arrasou, Morango.
_Obrigada Anne.
_Amiga que perfeição você é no palco. Quase chorei.
_Valeu Lari.

  As duas olharam para minha mãe, Isabela e Flavio.

_Acho que vocês são as amigas da Yasmim.
_É sim mãe, essas são a Ariane e a Larissa.

   As duas cumprimentaram todos ali, ao falar com Isabela, Larissa teve seus ataques de patricinha:

_Menina seu olho ficou perfeito! Com você esfumaçou isso?
_Compre uma maquiagem e faça. – Isa rebateu ríspida.

  Queria que o chão se abrisse de tamanha vergonha que senti de Isabela.

_Morango, vamos comemorar sua despedida, que tal?
_Não sei Anne... – Olhei para minha mãe.
_Vá Yasmim, aproveite que amanhã você não tem faculdade.
_Posso mesmo mãe?
_Claro que sim, eu vou pra casa. Me dê seu ramalhete, eu vou levá-lo já que Flavio está de carro.
_Valeu.

   Terminei de me trocar e juntas fomos a um barzinho não muito longe, estava feliz e triste ao mesmo tempo, não parava de olhar para meu celular na esperança de Vitor me mandar alguma mensagem. Como sempre, Larissa deu um tapa na minha testa.

_Caralho Lari! Isso dói.
_Eu sei, mas você tem que sair desse mundo de ficar mexendo no celular a cada dois minutos. Hello! Nós temos uma vida social tá?
_Desculpa.
_Está esperando ligação do namorado. Porque ele não veio, Morango?
_Trabalhos Anne.
_Ele trabalha onde? – Larissa puxou um canudinho e ficou “brincando” com ele enquanto fez a pergunta.

  E agora, o que falar para elas? Não saia bem o que responder.

_Ele trabalha em um supermercado.

  As duas tiveram um ataque de riso.

_Falando sério Morango, ele trabalha no supermercado? Qual a função?
_Ele é operador caixa. – Bastou isso para elas darem gargalhadas escandalosas, chamando atenção de todos.
_Amiga, melhora nesses amores.
_Qual o problema Lari? Tem algum preconceito com homens pobres?
_Não mas é que... – Estava tentando se conter da crise de riso – É estranho, ele pode ser foda na cama, mas nunca vai te dar o glamour que você merece.

  Meu celular apitou e olhei para ele, mensagem do Vitor:

“Ainda estou entorpecido pela apresentação. Você foi maravilhosa... Minha eterna Bailarina.”

   Meu coração parou de bater, meus dedos teclavam naquele celular trêmulos.

“O que?! Onde vc tava? Não te vi :/”

   Em alguns segundos a resposta veio:

“Estava nos últimos assentos. Agora, estou dentro do carro, próximo ao bar que você está.”

  Ele estava querendo me testar, só podia ser isso!

“Então vc pode vir me buscar?”

“Em alguns segundos chego aí.”

   Algo dentro de mim não acreditava que ele realmente estivesse ali, mas ao olhar para área externa do estabelecimento, pude ver um carro preto parando.

...

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