Capítulo 12




   Eu ligava insistentemente para Yasmim, ela recusava minhas ligações. Só parei de ligar para fazer minhas malas e sair em disparada para o aeroporto. Estava me sentindo um menino, bobo e inconseqüente, mas aquela garota... Ela me prendia de um jeito diferente.

   Fui para a capital da cidade onde ela morava e assim que aterrissei, aluguei um carro e fui até a cidade dela. Assim que cheguei me lembrei que não sabia onde era a casa dela, mais uma vez liguei e ela recusou minha ligação. Decidi parar em uma loja e comprei um chip, quem sabe assim ela não iria recusar. Disquei seu numero, chamou mais de três vezes até que ela atendeu...




Yasmim...

   Acordar na segunda-feira é um saco! Pra piorar a situação ter que encarar o Murilo, o cochicho... Tudo isso me incomodava. Assim que entrei fui direto pra sala, aproveitei pra contar a historia da minha primeira vez frustrada a Ariane e Larissa, que riam sem parar. O professou chegou e tivemos que encerrar o assunto.

   Com as ultimas aulas vagas preferi ir pra casa, não me sentia bem só de olhar pra cara de Murilo. Meu celular tocou e meu coração acelerou... Victor!

   Não atendi porque pra mim ele ainda estava naquela “listinha negra” dos meus pensamentos. Estava com raiva de tudo até da nuvem ali no céu. Entrei em casa e após o almoço fui tentar dormir mas alguém estava ligando pra mim e dessa vez não era o Victor. Atendi.

_Alô?
_Yasmim...

   Aquela voz rouca e trêmula era dele. Meu coração bateu descompassado e mil coisas vieram na minha cabeça: Como ele conseguiu aquele numero com DDD local? E porque essa insistência em me ligar depois de tudo?

_O que você quer?
_Precisamos conversar... Estou na sua cidade. Pode vir me ver?

   Fiquei sem fala. Ele estava na cidade e não era pra me ver, não podia ser. Não sou tão importante assim.

_Não. Não estou com vontade de te ver.
_Yasmim... Eu preciso te ver... Por favor!

  Se ele me insistisse mais um pouquinho eu iria ceder...

_O que você quer comigo Victor? Vai procurar as mulheres, porque eu sou uma menina. (Ironizei, como sempre)
_Eu te dei esse tempo pra refletir sobre o que te falei. Me prove que não estou perdendo tempo em largar minha folga no campo, na fazenda, pra vir te ver.

   Aquilo doeu em meu coração. Eu precisava daquele homem e pra isso teria que abdicar do meu orgulho.

_Onde você está?
_Estou com o carro estacionado onde a Van te deixou naquele dia.
_Estou indo aí.

   Assim que desliguei pulei como uma louca, queria gritar, dançar, a vida estava bela e o Victor estava atrás de mim. Coloquei minha sandália rasteira, passei no banheiro para me olhar no espelho e fui. Na sala fui parada por Isabela.

_Vai aonde?
_O Victor, ele veio me ver. Quer conversar comigo.
_Você é louca?! Nem pensa em ir sozinha, vou com você.
_Não Isabela. Me erra! Vou sozinha mas estou com meu celular, qualquer coisa te ligo.

   Saí rapidinho se não ela iria querer ir comigo mesmo. Já não conseguia me controlar, meu coração batia ansioso, meu estomago se retorcia e acho que fazia voltas dentro de mim.




Victor...

   Ali estava eu, parado dentro de um carro alugado, com boné e óculos para disfarçar, tudo isso por causa de uma garota. Liguei o radio mas sequer prestei atenção na musica que tocava, olhava para todos os lados, um deles Yasmim iria surgir.

   Reconheci de longe aquele cabelo cor de fogo, no seu traje, parecia uma adolescente qualquer. Na sua cara, uma expressão nada boa. Ela se aproximou do meu lado e ficou encostada na janela.

_Fala logo o que você quer.
_Primeiro, entra dentro do carro que não posso ser visto.
_E se eu não quiser?
_Estou te pedindo pra entrar no carro e tem que ser agora.

  Ela ficou ali, parada, se decidindo se iria ou não entrar no veículo.




Yasmim...

   Eis uma coisa que d-e-t-e-s-t-e-i no Victor... Ele ainda ousava em me tratar como uma criança, uma menina. Já vinha ordenando o que eu tinha que fazer. Reconheço que não sou boa de receber ordens e adoro provocar, fiquei parada do lado de fora do carro só pra ver a cara dele de desespero, depois de alguns segundos sendo “moleca” entrei no o banco do carona. Aquele perfil dele, mesmo com boné e óculos me deixava atônita, o que ele tinha que me deixava assim, perdidamente apaixonada?

   Ficamos alguns segundos em silencio, um dos dois teria que quebrar essa barreira. Eu fui a corajosa:

_Fala logo o que você quer Victor, não tenho o tempo do mundo todo.
_Então é assim que me trata? Minhas conclusões realmente estavam certas sobre você. A mesma menina que conheci, não evoluiu em nada.
_Se veio pra brigar melhor eu ir embora – Abri a porta do carro mas senti sua mão em meu braço.
_Eu não quero que você vá. Quero que fique e que juntos conversemos como dois adultos, eu sei que você deve ter alguma maturidade por trás desse rostinho angelical.

   Fechei a porta e mais uma vez ficamos em silencio, eu não iria tomar iniciativa, não mesmo. As lagrimas já ameaçavam cair.

_Me desculpa se falei algo que te machucou naquele dia, eu só fiquei assustado. Isso nunca aconteceu comigo.
_Inventa outra porque essa não colou.
_Já vivi situações parecidas sim, mas com mulheres que pra mim não foram tão importantes. Não sei o que você tem que me envolve de tal maneira que eu larguei tudo pra arriscar vir te ver e agora temos esse momento... Só não quero que acabe assim. – Segurou minhas mãos.
_E você acha que tem como reverter essa situação Victor? Quer acalmar os ânimos entre nós, comece a me tratar como uma mulher e não me fala palavras nem me dá sermões que meu pai daria.

   Baixei a cabeça e senti meus olhos embaçarem, chorei, não sei por quê. Victor suspirou e retirou as mãos das minhas, olhei de esguelha, ele estava olhando para a rua, pensativo. Me acalmei e limpei meu rosto, estava me sentindo uma boba.

_Eu sei que sou chato, insuportável às vezes, mas só quero o bem das pessoas que estimo e com você não seria diferente. Vamos começar do zero?

   Ele retirou o óculos, foi preciso isso para poder ficar mais petrificada naquele olhar.

_Para se conhecer melhor é preciso troca de informações..
_Eu te conheço né Victor, agora você não me conhece.
_De maneira alguma. Você conhece o ViCtor, o artista. Por isso se assustou com meu jeito de ser.

   Ele como sempre, culto e perfeito. Aquela conversa não estava saindo como esperava, meus instintos já clamava para estar beijando-o, sentindo aquela sensação boa que eu nunca consegui sentir.

_Tudo bem – Respondi impaciente – Você quer me conhecer melhor? Prazer – Estendi minha mão – Me chamo Yasmim de Souza Cavalcante, moro com minha mãe e minha irmã. De segunda a sexta pela manhã faço faculdade, nas segundas e quartas, tenho curso de inglês e de quebra, quando dá, nas sextas faço aula de balé. Satisfeito?

  Ele fez um meio sorriso e apertou minha mão.

_Prazer, me chamo Vitor Chaves Zapalá Pimentel, moro sozinho, de terça a domingo viajo pelo Brasil fazendo shows, nas segundas descanso porque ninguém é de ferro. Gosto de ler livros, fazer poesias nas horas vagas. Satisfeita?

   Permanecemos assim, com nossas mãos grudadas, olhar fixo e a vontade de sorrir daquele momento. Apertei minha mão e em um movimento instantâneo, ele me puxou, me fazendo sentar em seu colo. Não sei onde estava com a cabeça mas meu olhar já estava encarando aquela boca e nossos rostos se aproximaram. Estava trêmula, com medo, mas quando seus lábios tocaram os meus aquele receio se transformou em alegria.

   Sentir aquela língua pedindo espaço me dava leves espasmos, me concentrei nos movimentos e minha mão já estava acariciando a região da nuca. As mãos de Victor apertavam de leve minha cintura. Finalizei o beijo e fui para o banco de trás, o puxei comigo, claro. Após acharmos uma posição confortável, ele deitou-se e me levou junto, para me aninhar ao corpo dele, ficamos assim, apenas curtindo o momento de troca de carícias.

_Tem sabor de morango. – Ele sussurrou e beijou o topo da minha cabeça.
_Oi? – Ergui meu rosto para encará-lo.
_Eu falei que seu beijo tem sabor de morango.
_Não se iluda, é o trident que coloquei na boca antes de vir te ver. – Rimos.
_Você é sempre assim?
_Assim como?
_Descontraída em qualquer momento?
_Não, você já pode presenciar um momento diferente a esse.

   Ele ficou em silencio, apenas sentia sua respiração. Mais uma vez ouvi sua risada.

_Você me chamou de idiota e eu fiquei rindo internamente assim que bateu a porta.
_Por quê?
_Até em um momento tenso você consegue ficar linda.

   Nossos olhares se cruzaram e eu tomei seus lábios. Que beijos eram aqueles que me deixavam inerte e sem chão? Ele finalizou o nosso beijo e fez um impulso de levantar-se.

_Vamos, vou te deixar em casa, está querendo anoitecer.

    Voltamos para os bancos da frente, indiquei onde seria minha casa e durante o trajeto conversamos um pouco.




Victor...


Nos acertamos, era isso. Estava radiante dentro de mim. Aos poucos fui parando de frente para um edifício.

_É aqui. – Ela olhou para os apartamentos.
_Então agora já sei onde e como vir te raptar.
_Quando quiser é só vir. Sabe como voltar pro hotel?
_Sim.
_Ok. – Ficamos em silencio por alguns segundos, apenas nos encarando. – Te vejo em breve?
_É tudo o que eu mais quero.

 Soltamos o cinto de segurança e nos beijamos rapidamente.

_Tenho que ir. Tchau.

   Ela desceu do carro e entrou no edifício. Dei partida e voltei para o hotel, não iria arriscar viajar pela noite e preferi ficar na cidade mesmo.

   Não sei se era pelo fato termos reatado, mas eu estava querendo ela ali naquele momento. Terminei o jantar e fiquei assistindo TV, ainda era onze da noite e parecia já ser três da madrugada, o tédio estava tomando conta de mim. Mandei uma mensagem para ela:

“Ainda está acordada? Já estou com saudades.”


   Esperei por alguns minutos e já estava pegando no sono quando meu celular apitou:

“Ainda está na cidade?”


Respondi:

“Sim, hoje está frio. Queria você aqui.”

“Então pq ñ vem me buscar?”


  Não acreditei, até sentei na cama. Até que seria uma boa.

“Posso?”

“Sim. Vou te esperar. Mas aí vc tem que vir msm.”

“Me espera. Chego já aí”


   Estava me sentindo um moleque, um menino. Troquei de roupa rapidamente, peguei meus pertences e saí para buscá-la.

...

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