Capítulo 56


Yasmim...

   Aquela audiência me deixou acabada. Mentir não era nada bom pra mim. Olhei de esguelha e pude sentir olhares de Vitor, não conseguia entendê-lo, mas como foi ele quem deu um ponto final na nossa historia, o máximo que eu conseguiria dele seria um “obrigado” e somente isso não queria. Estava muito magoada por dentro, ficar sozinha na cidade naquele dia onde todos me repudiavam, de longe foi a pior coisa que ele já fez comigo, doía, eu chorava por dentro cada vez que lembrava.

Saí primeiro que todos ali e fui logo abraçar minha mãe.

_Vamos meu amor, acabou.

   Deixamos todo aquele tumulto deles saindo da sala passar, ficamos no canto, apenas observando; Vitor me olhou e nossos olhares apenas conversaram, eu esqueci de tudo naquele momento, troca de olhares que duraram apenas cinco segundos, ele foi empurrado para ir embora e sequer sorriu para mim. Talvez ali fosse a nossa despedida, talvez eu nunca mais pudesse ter um contato direto com ele. Chorosa como estava nos últimos tempos, voltei para casa assim; entrei em meu quarto escuro e me joguei na cama, desliguei meu celular e fiquei ali, com meus pensamentos. Saudades dos bons tempos em que ele vinha me buscar para passearmos por aí, saudades do cheiro, seu cabelo, sua voz rouca e baixa dizendo que me amava, da sua gargalhada... Como dói te amar Vitor Chaves.



Victor...

   Fomos direto para o aeroporto, aquela imagem não saia de mim, com seus olhos, Yasmim passava uma mensagem, talvez suplicando por ajuda. Entrei no jatinho mas não fiquei por muito tempo, antes de sair Leo segurou minha mão:

_Vai aonde Vitor?
_Vou atrás do meu destino, da minha felicidade.
_Vitor... – Repreendeu-me – Não faz isso.
_Eu sei o que estou fazendo e se quebrar a cara mais na frente, foi por amor.

   Saí do Jatinho com um sorriso estampado em meu rosto, tomei um táxi até uma locadora de veículos, aluguei um carro e fui até a cidade que Yasmim morava. Estava sorridente, feliz, radiante; engraçado como apenas ela mexia com minhas emoções. Parei de frente para o edifício, desci e fui até a portaria.

_Boa tarde, por favor, Yasmim. Ela mora no apartamento 201.
_Quem?
_Yasmim.
_Desculpe senhor, mas faz muito tempo que ela se mudou.

   Fiquei parado, tentando digerir o que acabara de ouvir, como um soco no estomago toda a minha alegria passou.

_O senhor não tem o endereço novo dela não?
_Não. Só um minuto. – Ele ligou para alguém brevemente, depois voltou as atenções para mim – Tá com caneta e papel?
_Tenho – Puxei a caneta do meu bolso. – Pode falar.

   Anotei tudo, agradeci e saí dali o mais rápido possível, achei a casa, o grande problema... Como chamar Yasmim, depois de tudo o que aconteceu, será que ela me perdoa?

   Fiquei por alguns minutos dentro do veículo, aguardando, ao ver a irmã dela sair acompanhada de um rapaz, desci do carro:

_Por favor, você é a irmã de Yasmim, não é?
_O que você veio fazer aqui, apanhar de mim? Porque a vontade que tenho agora é de te partir em quatro.
_Calma, eu vim na paz.
_Quer que eu resolva isso por você, Isabela? – O rapaz perguntou.

   Já estava encrencado demais, mais um processo em minhas costas e eu estaria ferrado.

_Esquece Flavio. Vamos dar o fora e deixar esse pateta aí.

   Deu as costas a mim e de mãos dadas, o casal foi se distanciando. Voltei para o veículo, alguma coisa eu deveria fazer, já sabia que ali era a casa dela. Respirei fundo, desci do carro e apertei a campainha, meu coração parecia querer pular pela boca de tão nervoso que estava. Uma mulher abriu a porta, a mesma mulher que estava abraçada a Yasmim naquela manhã.

_Pois não?
_Por favor, gostaria de falar com Yasmim.
_Ela está ocupada, não pode atender.

   A mulher olhava para mim da cabeça aos pés, me fitando, desconfiada, talvez por eu estar usando óculos de sol e um boné.

_Por favor, preciso falar com ela, é algo urgente... – Procurei uma desculpa convincente. – Diga a ela que sou o colega da faculdade que veio pegar um livro do trabalho que estamos fazendo para entregar essa semana.
_Só um minuto.

   A mulher se retirou dali ainda descrente e eu aguardei. Minutos que pareciam uma eternidade.


Yasmim...

 
Fui acordada pela minha mãe.

_Acorda Yasmim.
_O que é mãe?
_Tem um rapaz querendo falar com você...
_Quem? – Sentei-me na cama.
_Não sei, apenas se identificou como seu amigo da faculdade.. – Foi até porta para ir embora, mas parou na metade. – Seja lá quem for, está muito bem informado para não dizer ao contrario. Avise a ele que você trancou a faculdade.

   Fiquei ali parada, tentando saber de quem se tratava, poderia ser Murilo ou não. Fui ao banheiro, lavei meu rosto e decidi ir logo ver quem era. A porta estava meio aberta e conforme ia me aproximando, podia ver um carro preto estacionado na frente, meu coração foi aumentando o ritmo, não estava acreditando; cheguei na frente de casa e lá estava Vitor.

   Meus olhos já se enchiam de lagrimas, eu queria ter autocontrole, porém era impossível; Queria tocá-lo, beijá-lo mas ao mesmo tempo lembrei daquela madrugada em que ele me deixou sozinha, somente eu e Deus.

_O que você veio fazer aqui?
_Yasmim, eu... Nem sei por onde começar. Me desculpa, eu sei que errei desde o começo em que falei tudo para aquele cara e...
_E aí você acha que a trouxa aqui vai aceitar numa boa mais uma de suas desculpas? – Uma raiva fora do comum tomou conta de mim, eu só queria desabafar. – Perdeu seu tempo.

   Dei as costas a ele e entrei, antes de fechar a porta, senti que ele colocou o pé para ela não fechar por completo.

_Eu não vou desistir, Yasmim. Eu fico aqui na frente da sua casa o tempo que for preciso.
_Me deixa em paz Vitor!

   Consegui fechar com toda força e deixá-lo ali, uma hora ele iria desistir. Voltei para meu quarto mas a ansiedade tomava conta de mim, queria saber se realmente ele não iria desistir. Jantei calada naquela noite, minha mãe percebeu isso.

_E quem era o carinha que veio te ver logo cedo?
_Era um amigo. Esquece.
_Amigo? Tem certeza?
_Claro que sim mãe. Caramba! Me deixa em paz

   Me retirei da mesa só para não responder as perguntas seguintes. Antes de dormir, Isabela entrou com tudo no meu quarto:

_Vou ligar pra policia, aquele safado está passando dos limites.
_Que susto Isa – Coloquei a mão no meu peito esquerdo. – De quem você está falando?
_O idiota do cantorzinho sertanejo que está aí achando que você vai atendê-lo.

   Custei a acreditar, todo esse tempo Vitor ainda estava me esperando? Não podia ser.

_Calma Isa, ele vai cansar uma hora ou outra de esperar.
_Se daqui pra meia noite esse cara não tirar esse carro da frente da nossa casa, eu ligo.

   Ela se retirou e foi para seu quarto. Fiquei quase uma hora na duvida de ir até ele ou não, por fim, meus pés me guiaram até a porta da frente, assim que abri lá estava, o carro preto de frente. Senti medo mas o venci e me aproximei do veículo, bati na janela, ele prontamente desceu-a.

_Sai já daqui, minha irmã disse que vai ligar pra policia.
_Estou nem aí para o que ela vai fazer, eu só saio daqui quando você aceitar meu perdão.
_Está perdoado, pode voltar pra sua vida “corrida”.

   Dei as costas e fui em direção a porta, ouvi a porta do carro se abrindo e meu sangue ferveu dentro de mim, talvez já prevendo o que estaria por vir. Sua mão segurou um dos meus braços, me girando rapidamente e fazendo assim, meu corpo ficar de frente para o seu, não o encarei, apenas fitava seu peitoral na minha frente.

_Mas eu não só quero o seu perdão, eu quero você de volta para mim, dessa vez pra sempre.

   Sem pensar em mais nada, senti sua mão em meu queixo, erguendo meu rosto e roubando um beijo. Ali era minha morada, em seus lábios; como era gostoso o sabor do seu beijo, como era boa a sensação de suas mãos firmes em minha cintura, como era bom meus dedos entrelaçados em seu cabelo.

_Vem, está muito frio hoje.

   Me puxou para entrarmos no carro e sem pensar em mais nada roubou outro beijo e mais outro e muitos outros, nossas mãos eram ágeis e corriam pelo nosso corpo, a melhor sensação da minha vida. Tomei um susto ao ouvir alguém batendo na janela do motorista e me assustei mais ainda quando ele desceu o vidro... Minha mãe estava visivelmente séria.

_Desçam do carro e entrem em casa, quero ter uma conversa séria com os dois.

Estávamos encrencados!
...

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