Capítulo 46


   Enquanto estávamos na casa dos seus pais, Claudia evitava ter momentos a sós comigo, sempre inventando uma desculpa ou saindo de perto de mim para ter momentos com a sua mãe. Voltei para Uberlândia, pois no outro dia teria uma viagem, ela decidiu ficar.

   A semana foi tensa, algo estava me perturbando e sabia bem do que se tratava. Em alguns momentos ao chegar no hotel, sentia uma vontade de ligar para Claudia e terminar tudo por telefone, mas isso seria desonesto, afinal, não foi assim que eu a pedi em namoro. Ela também não ligava e sempre quando isso acontecia estava ocupada em algum trabalho ou evento. Aquilo estava me sufocando, não estava agüentando, aquela aliança em meu dedo não representava amor e fidelidade, mas ainda assim, eu levava isso comigo por questões de respeito para com ela. Yasmim, onde você está nesse momento? Será que me esqueceu e está embarcada em um outro romance?


Yasmim...

   Por mais que quisesse, Rômulo não conseguia me fazer feliz, eu não sentia o mesmo sentimento de quando estava do lado de Vitor, ao lado dele me sentia plena e feliz, o que resta agora é a saudade.

_Já falei que amo esse jeito do Rômulo cuidar de você? – Natalie me tirou do mundo de pensamentos.
_Para vai. – Baixei minha cabeça timidamente.
_Você tem sorte, só acho que deveriam se casar logo.

   Assustei-me com a ultima frase de Naty. Casar, uma coisa que nunca pensei nem mesmo quando estava ao lado de Vitor; aquilo me assustava, não queria terminar como minha mãe, com filhos e sozinha no mundo.

_Tá muito cedo, Naty.
_Só se for para você. – Baixou o tom da voz – Ouvi o Rô falando com o Caio sobre te pedir em casamento.

   Meu mundo caiu, meu coração parou de bater por um milésimo de segundo. Até onde isso iria parar?

_Olha Natalie, que ele não me venha pedir em casamento. Acho muito cedo.
_Credo Yasmim, depois do tal cara que te fez sofrer parece que seu coração se transformou em pedra.
_É só minha forma de pensar, ok?

   Ficamos em silencio por alguns segundos, apenas admirando aquela rua calma onde situava o edifício que Caio morava.

_Ainda me pergunto como ainda sou sua amiga? Nossa forma de pensar é totalmente diferente... – Aproximou-se de mim – Mas aí eu percebo que você conquistou meu coração e nossa amizade parece ser de anos.
_Obrigada Naty – Abracei-a.

   No fim da tarde Rômulo me levou para casa. Durante o trajeto confesso que sentia medo dele fazer o tal pedido de casamento, o que sairia era um belo “não” da minha boca.

_Está tudo bem? – Tocou minha mão
_Sim.
_Acho que você deveria ir morar na capital comigo, nos damos tão bem.
_Não dá Rômulo, não consigo viver longe da minha mãe.
_Mais cedo ou mais tarde isso terá que acontecer, Yasmim.
_Não tenho pressa em nada, você tem? – Rebati ríspida.
_Poxa, hoje você tá de TPM hein.

   Até minha casa permanecemos calados. Minha mãe foi até a porta para cumprimentá-lo.

_Caio, fique por aqui hoje. Fim de tarde não é muito bom viajar.

Ele olhou para mim com um riso bobo.

_Ok.

   Pela noite, o chamei para irmos a casa de Larissa. Entre meus amigos, Rômulo era o mesmo, cavalheiro, amigo, sorridente, o “carinha perfeito”. Ao chegarmos em casa, entrei no meu quarto e tentei dormir, não estava afim de fazer nada naquela noite, estava com saudade das minhas loucuras ao lado de Vitor. Senti alguém puxar o cobertor.

_Te amo. – Sussurrou.

   Virei-me e o encarei no escuro, a minha vontade era de bater nele, dizer que o odiava, que esse jeitinho sem graça dele me deixava irritada.

_Quero namorar hoje. – Segurou forte minha cintura.
_Mas hoje eu não estou com vontade. – Retirei suas mãos bruscamente.
_Nossa, o que você tem hoje, amor?
_Nada, apenas quero dormir. Me deixa em paz Rômulo. Se for pra ficar aqui, que fique quieto e durma também.

   Dei as costas a ele, uma lagrima teimosa caiu no meu rosto, Vitor... Será que você está bem mesmo como todos estão falando? Queria tanto te ver, te abraçar, beijar sua boca e te amar... Apenas queria você do meu lado para sempre.  

Victor...

   Cheguei em casa, para mais um dia de folga, Saí pelos cômodos a procura de Claudia, ela já não me ligava mais, estava me evitando ao extremo. Estava com coragem, iria fazer isso, seria não só para meu bem como para o bem dela, uma mulher tão linda assim não poderia ficar presa em relacionamento onde somente um quem guiava e respondia pelos dois, onde um amava pelos dois.

   Fiquei o dia inteiro tentando ligar para ela, no começo da noite a chave gira e ela entra; seu rosto não era mais radiante e feliz, existiam olheiras de tanto sofrimento causado por mim. Sim. Eu era o culpado por isso, pela infelicidade dela.

_Oi – Respondeu friamente e já estava indo para o quarto.
_Claudia... Precisamos conversar, sente.

   Ela voltou e sentou do meu lado, seu rosto estava tenso, talvez já prevendo o que iria acontecer. Baixou a cabeça e esperou que eu falasse algo.

_Antes de tudo, gostaria de dizer que admiro você, não só pela sua historia de vida como um todo, sua coragem de largar tudo o que estava vivendo para vir até Uberlândia morar comigo. Existem várias formas de se amar alguém, e acredite, eu te amo, você foi uma peça fundamental, minha razão de viver e uma esposa perfeita. Talvez algo esteja entre nós, talvez a convivência me fez enxergar outras coisas e fazendo assim nossa união tomar outros rumos.

   Parei para procurar palavras melhores a ser ditas no momento. Aquilo estava sendo mais difícil do que quando decidi terminar com Yasmim. Claudia não conseguia olhar para mim, seus olhos estavam tristes, segurei em sua mão, vendo-a me olhar pela primeira vez depois de tanto tempo.

_Só espero que nossa amizade permaneça, Claudia. Gosto de você, até me culpo por estar causando isso entre nós, mas preciso te libertar, preciso te ver feliz.
_Eu quem me sinto culpada... Talvez se eu estivesse grávida, isso não estaria acontecendo.
_Não se culpe por isso. Tudo acontece conforme Deus quer e se ele não quis é porque não era a hora nem o momento.

   O silencio invadiu o ambiente, estava tenso o clima ali. Claudia levantou-se e foi até o quarto, no meio do caminho parou, olhou-me profundamente.

_Vou fazer minha mala.
_Não faça nada agora. Eu saio e te deixo a vontade, fique e resolva o melhor para você.

   Retirei-me do apartamento e fui para a fazenda. Estava mal, mas sabia que Claudia estava bem mais. Liguei para Leo que em poucos minutos foi ao meu encontro, contei-lhe toda a minha versão...

_Enfim, foi isso.
_Você enlouqueceu, Vitor? Cara, a Claudinha é um amor de pessoa, super legal, carinhosa com todos. Porque fez isso?
_Concordo em tudo o que você disse, Leo, mas eu precisava fazer isso. Cara, eu estava fazendo-a sofrer, ela não tinha mais aquele brilho nos olhos, aquela alegria.

   Leo sentou na cadeira ali na varanda e ficou pensativo. Às vezes, ele agia como um irmão mais velho.

_E agora você vai atrás daquela menina que virou sua cabeça.
_Nem estava pensando nisso, Leo. Quero ficar bem, sozinho.

   Realmente, eu não estava querendo nada, apenas ter um momento sozinho para pôr meus pensamentos no lugar, arrumar a bagunça que estava em minha vida... Mas que meu objetivo era procurar Yasmim, isso eu não podia negar.

...

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