Capítulo 01




_Vitão, vambora que já vai começar o show!
   Estava tão empolgado em meu celular que não percebi a hora, também precisava descansar, desde que cheguei naquela cidade não tinha parado um minuto sequer. Paramos no hotel para deixarmos as malas, depois fomos para as rádios locais que não eram muitas mas como sempre acabávamos esticando nosso tempo em cada visita. Após o almoço fui analisar o palco, fazer a passagem de som já que nós seriamos os primeiros a se apresentar, mais uma vez passei no hotel para tomar um banho e assim que chegamos no camarim não parou, os promotores do evento sempre entravam com patrocinadores que por sua vez traziam a família, não sei por quanto tempo ficamos nesse bate papo, só sei que assim que me sentei Leo me chamou para começarmos o show.
   Peguei meu violão, a banda já estava posicionada para começar, a abertura como sempre, eu entrava com os solos e o Leo chegava em seguida. Toda aquela claridade batendo em meus olhos de imediato não enxerguei nada, só ouvia os gritos histéricos do publico a minha frente e gritos infinitos das nossas fãs. Fiquei assim tocando, prestando atenção nas musicas para enfim me acomodar no palco e eis que percebi algo. Na primeira fila, bem pertinho de mim, uma menina cantava nossas musicas, não gritava, não chamava pelos nossos nomes, seria ela fã mesmo ou só apreciava as nossas musicas?
   Os seus longos cabelos vermelho paixão me fez ficar petrificado, oras eu via Leo me olhar estranho como se quisesse me alertar que eu estava parado e vidrado naquela menina e para não dar o que falar, preferi não olhar mais pra ela. Continuei tocando a musica, dando atenção ao nosso Fã clube ali presente, ao chegar na musica timidez já sabia quem eu iria chamar, só que ao olhar para o local a minha menina não estava, fui ficando aflito.
   Deixei que Leo escolhesse quem ele iria chamar para dançar e até pensei em chamar uma das meninas que participavam do Fã clube, mas antes disso a moça apareceu de novo e meu coração disparou.
_Leo, já que você escolheu a moça que irá dançar com você, gostaria de pedir permissão para chamar uma garota para dançar também.
_Pode ficar a vontade Vitor.
Olhei para ela que já estava quase chorando.
_Vem cá ruiva.
   Ela ainda inerte olhou para os lados, acho que não acreditou muito que eu me referia a ela.
_Pode vir. É você mesmo.
   Os seguranças ajudaram-na a subir no palco, ela veio em minha direção e eu fiquei bobo com o que vi: Ela estava trajando uma blusa apertada, acho que é aquilo que as mulheres chamam de espartilho. Seus seios davam vida a cada vez que ela respirava e se não fosse Beto falando atrás de mim eu não sairia do transe. Não deixei também de perceber o short que ela usava, era um pouco acima do joelho e não tinha nada vulgar nela, estava linda.
_Obrigada por me chamar – Sussurrou em meu ouvido e na mesma hora de leve passou as unhas na minha nuca.
   Só olhando para ela assim, perto de mim para deduzir que ela não passava dos seus dezoito anos, era uma menina vestida de mulher. Entreguei meu violão para o ajudante de palco e fui em sua direção, diferente das outras garotas que dancei ao longo de vários shows, ela não parecia estar nervosa, segurou minha mão e eu passei a minha outra que estava livre para sua cintura, comecei os passos e ela encostou o rosto próximo ao meu, o perfume dela era agradável, seus cabelos tinham um cheiro cítrico gostoso de se inalar, até a sua respiração me dava um certo espasmo, sei lá, algo nela mexia comigo. 
   Iniciamos uma dança e já empolgado nós dois sorriamos, em um momento inesperado ela parou de dançar, deu dois passos pra trás, com seus dedos fez um gesto para que eu fosse até ela e assim eu fui, para completar a dança ela fez movimentos sensuais e para acompanhá-la me agachei, nossas pernas roçavam de uma maneira boa e gostosa. Infelizmente a musica acabou e Leo a chamou para dançar, percebi que ela não fez o mesmo com ele, a dança era tranqüila.
   Assim que ela terminou de dançar eu olhei para a produção que ficava ali do lado do palco, não precisei falar nada para eles entenderem que ela seria a minha escolhida para ter acesso direto ao camarim no fim do show.
   Prosseguimos o show, algumas vezes eu olhava para o lado e ela estava conversando com um dos nossos seguranças e olhando para baixo.

Yasmim…

   Lá estava eu, arrumando meu mais novo quarto. Só nesse ano era a terceira mudança de casa/ apartamento que fazíamos. Minha mãe tinha um dom de gostar de mudar nossa rotina, depois que meu pai foi embora junto com uma vagabunda destruidora de lar ela ficou assim meio louca, pode-se dizer.
   O que antes era uma família linda de comercial de margarina agora como um verdadeiro reality show, só ficamos nós três, eu, minha irmã e a minha mãe que por sinal depois que meu pai se foi teve que ser “o homem da casa” e pela primeira vez teve que arranjar um emprego para nos sustentar.
   Confesso que aquele bairro era legalzinho e era perto de tudo, até da minha faculdade. A melhor parte… Perto de uma casa de shows e na mesma semana que me mudei eis que tenho esse privilégio de ter o show da dupla que eu amava e dedicava a minha vida a eles… Espera, não, nem tanto assim, me sentia uma verdadeira poser por não conhecer muito, apenas admirava o trabalho deles e depois que comprei os ingressos (sim, só saía para esses lugares se Isabela fosse comigo, minha irmã mais que chata e que só curtia rock) comecei a pesquisar mais, os dois eram lindos, gatos, mas um me chamava mais atenção.
   Aquele dia foi de superação, tinha que decidir o que ficava e o que saia do meu novo quarto. Meus livros? Nunca que eu iria desfazer deles, cada um tinha um significado na minha vida.
   Os dias passaram rápidos e eu procurei caprichar no meu visual para ir ao show deles, queria aparentar ser uma mulher e não aquela moleca que ainda usava All Star para ir a faculdade ou tomar um sorvete aos domingos com as amigas. Surpreendi ao me ver comprando um espartilho, nunca usei coisa tão depravada mas queria não só impressioná-los como talvez arranjar um gatinho na festa porque Murilo já estava ficando chato pra cacete. Infeliz!
_Isabela termina logo de se arrumar… – Olhei para minha irmã que usava uma blusa preta com uma caveira estampada, short jeans e all star pra variar. – Espera, você vai assim? – Apontei para ela. – está brincando né? Não vou pagar mico.
_E você vai assim? Parecendo uma puta? Ô MANHÊÊÊÊ
  A vadia saiu pelo corredor gritando e chamando pela nossa mãe. Achou-a na sala.
_A Yasmim vai assim? – Apontou para mim.
  Tá, minha mãe me olhou torto, mas eu só queria ser feliz uma vez na vida.
_Yasmim vai já colocar um casaco!
_De maneira alguma e parem de me olhar assim, tenho vinte anos e não sou mais nenhuma menina.
   Minha mãe parece que tinha tomado algum calmante depois que meu pai foi embora porque nas minhas brigas com a Isa ela não se metia mais. Estava meio que inerte a tudo que se passava ao seu redor.
_Vai embora. Se um tarado te pegar nada posso fazer. – Voltou a assistir tv.
   Posso falar o quão chocada fiquei? Para não borrar minha maquiagem preferi sair e esperar por Isa lá no corredor. Juntas, pegamos um táxi e em menos de uma hora estávamos dentro da casa de show. Aquilo tudo parecia ser mágico, todas as pessoas bem vestidas, educadas e tudo o que eu queria era ir para frente do palco.
_Nem pensar pirralha – Isabela segurou minha mão – Já to pagando o mico de estar aqui, não vou escutar gritinhos no meu ouvido.
_Eu vou Isa, se quiser que fique aí.
   Fiz essa jogada porque sabia como deixar minha irmã preocupada comigo. Antes mesmo de começar o show ela estava do meu lado, rolando os olhos e mandando mensagem pro namorado esquisito dela. Acontece que quando a luz se apagou e aquelas cortinas se abriram algo tomou conta de mim, enquanto outras garotas gritavam eu apenas admirava todo o palco. Victor entrou com seus solos e assim iniciou o show, cada musica eu cantava e as vezes fechava os olhos para apreciar bem a letra, ao abri-los senti que ele olhava para mim, sei lá, com um monte de mulheres consideradas pelo padrão de gosto masculino como “gostosas” ali por perto eu sentia que aquele olhar era pra mim e não para elas. Senti uma mão puxar a minha.
_Vamos Pirralha, tenho que ir ao banheiro.
_Não dá pra segurar?
_Cala a boca e vem logo idiota.
   Enfrentamos um mundo de gente só pra ela ir ao banheiro, assim que terminou tudo fui na frente correndo para meu local onde estava momentos antes. Eles estavam chamando algumas garotas para dançar, assim que me aproximei vi o Victor olhar para mim e me chamar.
_Vem cá ruiva.
   Olhei para trás, achei que tivesse outra garota com cabelo pintado de vermelho, mas não, era pra mim que ele dirigia a palavra.
_Pode vir. É você mesmo.
Fiquei nervosa no começo mas não iria dizer não, fato!
   Ao me aproximar dele minhas pernas tremeram e eu achei que iria cair ali mesmo, mas me contive, ele olhou para meus seios e eu me senti a tal. Dancei com ele e fiz diferente, queria provocá-lo e acho que consegui porque assim que sai do palco um dos seguranças segurou minha mão e colocou uma pulseirinha no meu pulso.

_Quando terminar o show você irá ao camarim para tirar foto.

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