Capítulo 09
Yasmim...
Antes mesmo que pudesse abrir os
olhos, senti minha cabeça pesar, a dor era insuportável e só piorou quando
tentei abrir meus olhos. Aquelas cortinas não estavam ajudando em nada, os
raios de sol invadiam o cômodo pelas frestas, a claridade doía meus olhos
naquele momento, parecia que tinha caído um caminhão de terra sobre eles porque
agora ameaçavam lacrimejar e arder.
Virando lentamente, pois qualquer
ação feita por mim minha cabeça já avisava que a dor seria mortal, olhei para
algumas partes daquele quarto. Nunca tinha estado ali, as paredes brancas, os
moveis perfeitos, tudo ali cheirava a luxo. Minha boca estava seca, mas no
interior dela, minha saliva já se formava de uma maneira ácida, minha garganta
formava um nó e eu impedia de engolir qualquer coisa, não sabia onde estava e
não iria passar vergonha onde quer que estivesse.
Me levantei devagar, sentei por
alguns segundos já sentindo minhas pernas fraquejarem e a porra daquele nó na
garganta continuar. Cambaleando e rezando aos céus para não cair de joelhos no
chão, saí procurando um banheiro mais próximo e por sorte achei de imediato.
Parece que algo ativou dentro de mim
assim que vi o vaso sanitário porque corri rapidamente em direção a ele, foi
esse tempo, suficiente para apoiar minhas mãos na parede e encará-lo, o vomito
veio pela minha garganta e ao ir em direção para aquele buraco o odor de bebida
alcoólica invadiu ali. Mais uma vez reconheço que exagerei na bebida. Nas
festinhas da faculdade sempre tinha Ariane ou Larissa para me ajudar nesse
momento, mas agora tudo o que tinha eram minhas mãos e meu corpo escorregando
para cair de frente para o vaso e “terminar” o que havia começado.
Meus olhos já ardiam e agora as
lagrimas caiam, não se iluda, eram lagrimas de esforço e desespero, nada que
levasse ao amor. Assim que apertei a descarga procurei forças para me levantar
e tentar entender a situação. Como tinha ido parar naquele quarto? Quem estava
nele?
Molhei meu rosto e me encarei naquele
longo espelho diante de mim, com um sabonete que tinha ali retirei minha
maquiagem porque o estrago tava feio. Parecia que o vômito tinha me aliviado do
peso e até da dor de cabeça, que agora doía pouquinho, quase nada. Ao sair do
banheiro, a visão que eu vi me fez recordar pelo menos o porquê de ter ido
parar ali. Victor estava sentado na beira da cama, com os antebraços apoiados
nos joelhos, estava visivelmente sério encarando chão. Ao ouvir meus passos
ergueu o rosto e me encarou.
_Bom dia – Não sabia o que tinha acontecido
na noite anterior, preferi ser apenas educada.
_Oi. – Essa resposta foi necessária
para interpretar que a noite fora um fracasso.
_Está tudo bem? – Sentei em uma
cadeira bem longe pra ele não se aproximar e sentir meu cheiro “perfeito” de
bebida alcoólica misturada com sabonete de hotel no meu rosto.
_Comigo sim. – Pausou e continuou
encarando o chão. – Precisamos conversar.
_O que houve? – Fiquei tão nervosa
que achava que a ânsia no estomago estava voltando.
_Você não pode beber daquele jeito.
Acho que nem se lembra.
_Me desculpa, acho que me empolguei.
Baixei a cabeça e encarei minha mão
sobre a perna. Estava morta de vergonha e meu ídolo estava me dando um
“sermão”. Ficamos em silêncio, acho que eu queria chorar, já mordia os lábios
para que aquele clima ruim acabasse antes de fazer isso.
_Não ligo em você beber, até porque
ontem eu também exagerei um pouco. Mas falo na sua real condição. Você ainda é
uma menina Yasmim.
_Para de falar isso. Cansei de dizer
que sou uma mulher, tenho vinte anos...
_Não é uma bebida que vai te fazer
ser uma mulher, não é dançando sensual que irá te fazer se tornar adulta. São
suas atitudes. – Ele alterou a voz e eu me segurei pra não chorar. Após alguns
segundos de pausa ele voltou a falar. – Você é uma menina.
_Não sou uma menin...
_É sim! – O tom da voz se elevou e
foi pior que da ultima frase. – Porque não me disse que era virgem?
Mil e um pensamentos voaram pela
minha mente, imaginei mil cenas também. A cara de desespero de Victor era
visível, o que me deixava com mais culpa e mais medo. Queria saber o que
acontecera naquela noite.
_Do que está falando?
_Você ontem... Enquanto estava bêbada...
Me falou isso.
_Mas você... – Senti um baque no
peito.
_Não – Fez um gesto negativo com a
cabeça – Parei na mesma hora. Tempo suficiente de você se virar na cama e cair
no sono profundo. – Os olhos dele tinha decepção, não pelo o que aconteceu, mas
pela minha “omissão”
_Eu... Eu... – Nada saia da minha
boca e senti as lagrimas caírem em meu rosto.
_Teve sorte que eu não sou um
cafajeste. Eu poderia tirar sua... Pureza, sua inocência... Eu poderia me
aproveitar de você. – Os olhos dele lacrimejavam mas as lagrimas não chegaram a
cair. – E ainda você bate no peito pra dizer que é mulher? Não. Mulher de
verdade não toma atitudes como você fez, não mente diante de uma situação tão
séria. Você ainda é uma menina.
Odiava quando diziam essa frase! Eu
não era menina, já tinha corpo formado, estava no meu segundo ano da faculdade,
logo iria estagiar, eu seria alguém e não seria uma virgindade, tampouco um
cara na minha frente que iria tirar isso de mim.
_Quem é você pra me dizer isso? Está
me comparando àquelas vagabundas de ontem que estavam na nossa mesa? Pois é,
não sou igual a elas. Sou melhor!
_Viu? São essas atitudes que te fazem
se tornar uma menina... Você tem que
crescer, Yasmim.
_Eu não nasci pra ser humilhada dessa
maneira...
Ainda meio tonta, saí procurando meus
sapatos, peguei minha bolsa e antes de sair o olhei fixamente.
_Você aprenda a falar direito com uma
mulher ou menina, como você quiser me chamar... Se eu quiser conselhos, vou até
minha mãe e peço, não vai ser você que vai me dizer o que sou. Seu idiota!
Bati a porta com toda força, nem
ligava mais se estava saindo daquele hotel com a bolsa e meus sapatos na mão.
Nunca me senti tão humilhada assim, pior ainda pelo meu ídolo! Não consegui me
conter e chorei no meio da rua mesmo, acho que o sentimento mais perto era
vergonha, sim, era isso o que estava sentindo. Vergonha porque foi preciso meu
ídolo me alertar o que eu estava fazendo, vergonha até por aquela maldita
virgindade me perseguir enquanto minhas amigas estavam todas na ativa
sexualmente. O Victor pra mim era um banana que não passava de ser um idiota
que queria pagar de homem bom, estava com tanta raiva dele agora que se pudesse
o atropelaria. Não iria olhar mais na cara dele, aquele tinha sido meu ultimo
show que fui.
Peguei um táxi e fui para casa de
Natalie, assim que me viu ela se assustou.
_Yasmim, porque tá chorando?
Me agarrei nela e chorei. Com
explicar pra ela? Nem eu mesmo sabia o que tinha acontecido.
_O que houve?
_Fiquei com um carinha e acabei ultrapassando dos limites da bebida.
_Fiquei com um carinha e acabei ultrapassando dos limites da bebida.
_Poxa... Eu não deveria ter saído com
o Caio.
_Nada disso. – Limpei o canto do olho
– Foi na casa da minha amiga, teve uma festinha por lá. Enfim, quero esquecer.
Só vim pegar minhas coisas que já vou pra casa.
_Eu te levo.
O caminho até a rodoviária foi de
extremo silencio, assim que chegamos eu a abracei e ela soltou um risinho.
_O Daniel me falou que você o chamou
de idiota.
_Quem manda ele me comparar com uma
burra naquela mesa de bar?
_Ele é gente fina.
_Eu não gostei dele. Tenho que ir.
Abracei-a e fui o caminho até em casa
dormindo. O ônibus parou em um posto e aproveitei pra comprar água, minha boca
estava necessitando.
Para esconder da minha bebedeira,
assim que cheguei em casa mamãe estava assistindo TV e sorria, me viu e me
abraçou.
_Como foi?
_Legal, vou dormir.
_Legal, vou dormir.
Fui para meu quarto e fiquei aquela
tarde dormindo, passei a noite dentro do quarto. Cada vez que via meus CDs
sentia uma raiva ao ver o Victor ali. Deus! Porque tão lindo e tão idiota?! As
lagrimas começaram a cair e eu dei vazão, fiquei ali, me entregando aos
momentos bons, um deles de quando entrei no camarim e o abracei, fiquei assim
até adormecer.
O fim de semana acabou e no outro dia
nem fui pra faculdade. Estava arrasada! Nem é todo dia que um Victor Chaves te
nega e de quebra te dá “sermões de pai”. Alguém bateu na minha porta e eu
autorizei, pensei ser a Ariane ou a Lari, mas foi Isabela. Milagre do século!
Ela bater na minha porta!!!
_Posso entrar?
_Já tá dentro, só fecha a porta.
_Já tá dentro, só fecha a porta.
Ela fechou atrás de si e com as mãos
na cintura se aproximou da cama.
_O que você tem pirralha?
_Nada. – Rebati ríspida – Me deixa em
paz que hoje não quero discutir com ninguém.
_Eu não vim pra discutir. Eu vim pra
saber o que houve com você. Algo aconteceu... – Sentou-se na beira da cama –
Quer ombro amigo?
Sei
lá, nunca me senti tão carente em toda minha vida. Não poderia falar com mais
ninguém sobre o Victor. Lari e Anne iriam me caçoar até o fim de nossas vidas e
iriam me chamar de paranóica e viajante de pensamentos. Natalie não iria me
entender, porque eu iria chamar o ídolo dela de idiota e juntas, brigaríamos.
É... Tenho que admitir que Isabela era a única opção para minha ajuda
...
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