Capítulo 10



    Afastei um pouco para que Isabela sentasse na cama e logo coloquei minha cabeça em seu colo. Passei longos minutos chorando ali, não conseguia parar. Soluçava, fungava, enquanto isso, ela fazia carinhos em mim. Chorava mesmo era de felicidade, Isabela nunca foi a “roqueira gótica”, começou a usar essa “capa” depois que Papai nos deixou, ela e mamãe tiveram que arcar com todas as responsabilidades da casa.

_Já pode me falar ou vou ter que esperar uma eternidade para ouvir o que houve com você?

   Sai do colo dela e enxuguei minhas lagrimas, outras mais caiam, mas não com muita freqüência. Contei sobre tudo, tudo o que estava me fazendo mal em meus pensamentos. Oras ela ficava boquiaberta, outras, ela exibia seu olhar vingativo, mas foi no fim que ela fez a expressão mais calma que eu já vi em seu rosto.

_Enfim, foi isso.
_Você é louca Yasmim! Primeiro, se arrisca indo sozinha ver esse cara. Eu deveria ter ido e isso não iria acontecer. Segundo, você não sabe o que está fazendo, encher a cara e sair se esfregando em qualquer um...
_Ele não é qualquer um, é o Victor Chaves.
_Pouco me importa! – Ela deu uma breve pausa – Esse sertanejinho aí é idiota, mas não tanto. Ele foi um verdadeiro homem. Já pensou se fosse outro e se aproveitasse de você? Acorda Yasmim, o mundo não é tão fácil assim não.
_Espera, você está concordando com o que ele fez? Muito imbecil você Isabela.
_Estou analisando a historia não como sua irmã, mas como mulher que já sofreu muito na vida.
_Oh! Como ela sofreu na vida (Ironizei)
_Não brinca com isso! Virgindade não é negocio, tampouco brincadeira.

   Os olhos de Isabela se encheram, ela tinha alguma magoa do passado. Segurei suas mãos

_Aconteceu algo parecido?
_Sim – Ela enxugou as lagrimas fujonas – É por isso que te peço. Não se entregue pra qualquer um Yasmim.

   A vez de chorar foi dela, Isa soluçava e alguns momentos apertava minha mão.

_Fala comigo Isa, você me ajudou, agora é minha vez de te ajudar.
_Ele foi um sacana comigo... Eu era como você Yasmim, toda legal, fazendo faculdade, na roda das populares e foi em uma festa dessas de faculdade que vi tudo o que eu tinha de inocência ir pro ralo. Diferente da sua historia, o Caíque se aproveitou de mim. Minha historia foi a mesma que a sua, bebi, enchi a cara e no outro dia restou a dor na consciência e um chute no traseiro.

   Lembro que na época Isabela entrou em depressão, não saia de casa, ficava trancada no quarto, nem com as amigas ela falava.

_Por isso te digo: Agradeça por esse cara aí ter agido como um verdadeiro homem. Agora tenho que ir.

   Ela saiu do meu quarto ainda enxugando as lagrimas. Ver Isabela assim, tão emotiva, me assustava. Após nossa conversa, comecei a pensar e cheguei a conclusão que agi como uma menina boba e  inconseqüente, queria pedir desculpas para Victor mas não tinha forças e nem coragem para ligar pra ele.


Isabela...

   Lembrar do passado ainda sentia meu peito oprimido. Flavio por mais louco que fosse me tirou daquela depressão que espero eu não passar nem ver alguém próximo passar também. Yasmim teve sorte de ter aquele cantorzinho ali, se fosse outro faria algo pior que não quero nem pensar.

  Assim que fui para cozinha, mamãe estava chegando do trabalho.

_Não foi trabalhar por quê?
_Tive folga. Depois vai no quarto da sua filha que ela precisa de você.
_Porque precisa de mim? Já não basta o tanto que trabalho para dar tudo do bom e do melhor pra ela?

   Desde que Papai saiu de casa, mamãe assumiu esse jeito durona. Tive sorte de a minha adolescência ter sido na época em que nossa família ainda era comercial de margarina e Mamãe me dava vários conselhos sobre sexo. Mas agora, Yasmim estava sofrendo e precisava da ajuda dela. Segurei os ombros dela e a encarei:

_O que ela precisa agora não é nada material. Sua filha precisa de uma palavra amiga, sobre aquilo tudo que você me ensinou.
_O que essa menina andou aprontando?
_Nada que não dê para resolver. Mas se você for a tempo, ela não vai fazer nenhuma besteira. – Saí de perto dela e peguei uma maçã na fruteira. – Tô saindo com o Flavio, não vou almoçar aqui hoje.


   Os minutos que eu passava com Flavio pareciam ser os melhores. Diferente daquele ambiente pesado e triste, no apartamento dele nos divertíamos e eu ainda sentia a esperança de existir um amor e quem sabe um dia, formar uma família feliz.




Yasmim...

   Fiquei encarando meu celular por longos minutos, iria discar quando ouvi a porta bater. Mamãe entrou com uma expressão no rosto estranha, não sabia ao certo explicar.

_Entra mãe.

  Ela sentou na beira da cama e ficou me fitando.

_Aconteceu alguma coisa? Foi demitida?
_Vira essa boca pra lá menina. – Bateu na madeira da minha cama. – Sinto que você precisa de mim hoje. Vamos conversar?

  Pior do que ter uma irmã gótica e imprevisível, é saber que ela é dedo duro.

_O que a puta da Isabela foi te contar?
_Nada, sua irmã falou que você precisava de mim. Só isso.
_Não mãe, eu não quero conversar, ainda por cima com você – Rolei os olhos, impaciente.
_Yasmim... Me diga... Você tem vinte anos, e uma menina na su-sua idade já aconteceu... Você sabe do que estou falando.
_Claro que sei e sinceramente? Não me sinto bem falando sobre isso com você e sinto que você não está a vontade.

   Ela suspirou e encarou o teto por alguns segundos, depois olhou para meu quarto.

_Olha minha filha. Se-se você quiser, nós podemos ir à ginecologista que eu sempre vou. Ela é ótima e a maioria de suas pacientes é jovens e...
_Mãe, eu sou virgem. O que vou fazer em uma sala de ginecologia? Fala serio!

   Ela colocou a mão no peito e suspirou aliviada. Acho que a lerda da minha irmã falou em meias palavras e ela deduziu isso.

_Mas não é preciso não ser virgem pra freqüentar um ginecologista. Você pode tirar dúvidas, fazer exame, começar o tratamento de comprimidos...
_Mãe, já chega! Quando eu estiver em duvida eu pesquiso no google, quando eu precisar de pílula, será a do dia seguinte e a Ariane tem um monte dessas.
_Nunca que quero você usando isso – Alterou a voz, tava demorando...
_Tá tenso esse nosso papo né? Eu também percebi. Precisa falar mais alguma coisa? (Arqueei minhas sobrancelhas.)
_Desisto de falar com você.

   Eu pensei que ela ia embora, mas parece que um imã estava deixado-a ficar ali. De repente me senti uma idiota falando com minha mãe, ela só queria me ajudar e eu precisava dela sim.

_Mãe, você perdeu a virgindade com papai?

   Ela me olhou assustada e eu estava esperando uma bela tapa na minha cara, ao invés disso, ela sorriu, olhou para um ponto no quarto como se estivesse lembrando de algo:

_Não. Na época eu conheci um carinha e por pressão acabei me entregando a ele. Ele não prestava, mas eu vivia atrás, por achar que era amor o que sentia por ele... O seu Pai veio para me socorrer, me mostrar o verdadeiro amor. Ele sequer reclamou ou me recusou porque eu não era mais moça. – Ela olhou para mim e segurou nas minhas mãos – Yasmim, quando chegar a hora você saberá. Acredite, estou muito orgulhosa por saber que você ainda é virgem. Não se entregue para qualquer um. A primeira vez é horrível, mas se for com o cara certo, ele vai fazer esse momento ser o melhor da sua vida.

  Ela se levantou da cama e antes de sair do quarto virou para me encarar.

_Enquanto isso não acontece, arruma seu quarto que tá uma bagunça. – Abriu a porta mas voltou – Ahh e entre o meu ex e seu pai... Seu pai dava de dez a zero na cama.
_Mãe! Isso é nojento...

   Ela riu alto e saiu do meu quarto. Tudo estava tão bem, Isa e minha mãe me dando conselho, confessando algo delas. Acho que minha vida estava voltando ao normal.

   Passei a tarde inteira arrumando minha bagunça e quando anoiteceu só fiz me deitar na cama e dormir. Acordei cedo e até estranhei porque não cheguei atrasada na faculdade. Ariane estava ali ao lado de Larissa, que passava batom vermelho cereja nos lábios.

_Enfim apareceu Yasmim! Esperamos você na festa e onde a senhorita estava? Porque o Murilo estava lá.
_Foi mal Anne, preferi ficar em casa. – Menti
_Você perdeu. A festa foi um luxo. E o Murilo tadinho... Ficou te esperando a noite toda.

   Aquilo que Larissa falou me doeu a consciência. Larguei o certo pra ficar com o duvidoso. Victor ainda estava em meus pensamentos na lista de Idiotas que me fizeram sofrer. Fui em direção a ele que quando me viu abriu um sorriso largo, lembrei das palavras da minha mãe.

_Oi
_E aí, cadê você na festa? Esperei a noite toda.
_Não estava me sentindo bem. Preferi ficar em casa. – Ficamos em silencio, eu precisava fazer a pergunta mas não tinha coragem. – Sabe Murilo, lembra daquela proposta que você fez pra mim?
_O que tem ela?
_Eu estou preparada... Eu quero.

 Os olhos dele brilharam.

_En-então quando podemos...
_Amanhã, eu mato aula. Você pode?
_Claro. Então amanhã vamos, certo?
_Certo.

...

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