Capitulo 18



_Não sei Vitor, não posso confirmar, você sabe que minha mãe e minha irmã tomam conta de mim e enfim.
_Eu sei – Seu tom de voz estava desanimado.
_Vamos ver isso com calma depois, tá bom?
_Tudo bem, mas se não puder ir vou entender.
_Ok, boa noite.

   Desliguei e fiquei pensativa. Algo me dizia para ir, mas mil e um obstáculos apareciam em minha mente, eu tinha medo, não por não confiar, mas medo de mim. Se em uma noite eu não controlei meus instintos, que dirá um fim de semana livre com Vitor?

   Aquela madrugada foi tensa, eu estava feliz e triste, queria pedir a opinião de alguém, mas quem? Ariane e Larissa teriam que saber da verdade e iriam dizer que eu estava viajando demais em meus pensamentos.

   Por sorte, não houve aula naquele dia, era feriado na cidade. Fiquei na cama até um pouco mais tarde e me levantei a muito custo ainda decidindo se iria tomar café da manhã ou almoçar. Saí do banheiro e fui em direção a cozinha, peguei algo para comer e percebi que Isabela estava assistindo TV, com minha xícara em mãos fui até lá. Sem me olhar ela puxou assunto.

_O que você quer pirralha?
_Eu queria te pedir um conselho.
_Senta aí e fala.
_Para de olhar pra TV.

   Ela parou o que estava fazendo e ao me olhar fez uma cara estranha. Decidi desabafar, contei tudo o que se passava, algumas coisas em detalhes para ela entender.

_Enfim, é isso.
_Ainda não aconteceu entre vocês?
_É o que te falei, eu quero mas ao mesmo tempo não.
_Acho que você tem que viajar sim, não vai fazer nada que não queira. Se não se sentir a vontade, não faça. Pelo pouco que você está falando ele é um verdadeiro homem e vai entender.
_Eu sei disso, sei que ele vai me respeitar. Sabe, eu quero muito que seja com ele porque já me provou que é respeitador e romântico, mas e se eu decepcioná-lo na hora?
_Não existe isso Yasmim, se não acontecer nessa viagem, haverá oportunidades pra vocês dois fazerem.

   Ouvi a porta se fechar, ao virar meus olhos encontraram com os da minha mãe, que estava com um brilho diferente neles. Ela se aproximou de nós, sentou do meu lado e começou a acariciar meu cabelo.

_Então é isso o que ouvi? Minha menina está pronta para se tornar uma mulher?

   Queria que o chão se abrisse só para não sentir meu rosto queimar de tamanha vergonha. Era estranho saber que minha mãe estava ali me dando força.

_É mãe, mas ainda não sei.
_Onde vai ser? E o carinha, é o Murilo, aquele que vivia te ligando?
_É mãe, ele vai viajar e me chamou. Mas estou na duvida.
_É, nessa parte eu concordo com você. Melhor não ir.

   Algo em mim se decepcionou, eu queria mostrar com argumentos que queria ir pra essa viagem,

_Mas algo me diz pra ir, eu quero tentar sabe mãe?
_Se você quer ir, não posso te prender.
_Mãe, é só um final de semana que a Yasmim não estará aqui. Logo ela volta
_Eu sei Isabela mas você sabe que até hoje quando você viaja com Flavio meu coração fica oprimido não é? Um dia vocês serão mãe e me entenderão.

   Ficamos ali em silencio, apenas nos olhando.

_E aí Yasmim, já pensou em roupas, lingerie, biquínis...
_Mãe, é só uma viagem e nem sei se vamos pra praia.
_Quer ir na doutora? Ela pode te passar um anticoncepcional...
_Não mãe, relaxa que usamos camisinha... Isso é, se acontecer. Vou tomar um banho.

   Saí dali pra não piorar a situação, era estranho conversar sobre essas coisas com minha mãe. Peguei meu celular e liguei para Vitor, após chamar muito ele atendeu.

_Oi Yasmim?
_Que voz cansada é essa?
_Você me acordou.
_Desculpa meu amor.

  Ouvi um risinho lindo do outro lado da linha.

_Tudo bem.
_Vitor... Eu já decidi. Vou viajar com você, mas não me leva pra muito longe tá?

  Senti que ele estava se sentando na cama, com certeza tinha se empolgado.

_Tudo bem, você tem alguma preferência de local?
_Não... Qualquer lugar com você se torna especial.
_Então, posso te surpreender?
_Faça esse favor.
_Tudo bem.
_Vou desligar. Beijos.
_Outros mais em você.

   Estava mais tranqüila, aquele medo já tinha passado e agora ansiedade tomava conta de mim. Corri para o calendário para ver a data e logo me empolguei, iria viajar com Vitor e prometi a mim mesma que iria deixar as coisas fluírem com calma, o que tiver de ser, será.



Victor...

   Fui dormir naquela madrugada um pouco triste, acho que era isso. Quando eu queria, Yasmim não se sentia a vontade comigo, o que me deixava decepcionado. Foi naquela manhã, após xingar mentalmente quem estava me ligando e me acordando, que fiquei empolgado. Yasmim dera a noticia mais feliz que já ouvira naqueles dias, assim que desliguei o celular várias idéias passaram por minha cabeça, só queria que tudo saísse perfeito, do jeito que estava imaginando.

   Levantei bastante disposto, peguei meu notebook e voltei para cama. Comecei a pesquisar várias cidades próximas onde Yasmim morava, ou perto da capital. Achei uma cidade de praia, duas horas mais ou menos da cidade dela, pronto, seria ali, agora era só pesquisar alguma casa para alugar e passar o fim de semana. Queria fazer tudo sozinho, não iria pedir ajuda a ninguém, não poderiam saber do meu caso indefinido com ela. Bateram na porta, autorizei a entrada, Leo entrou arrumado.

_Ainda na cama Vitão? Se arruma que temos que viajar, mais um show.
_Leo, você sabe quando será nossa folga, fora o fim de semana?
_Por quê? Vai ver sua menina. – Sentou na beira da cama.
_Não, vou providenciar tudo para que o meu fim de semana de folga seja o melhor da minha vida.

  Ele me olhou e fez um meio riso.

_Vê lá o que você vai fazer hein nego véio. Lembre-se que tudo o que fazemos hoje, colhemos mais na frente.
_Hei Leo, essa frase é minha.
_Mas hoje o sem juízo é você. – Levantou-se – Vou te esperar no hall do hotel, tem fãs lá embaixo, vou atendê-las antes de sairmos.

   Estava indo longe demais, eu sabia disso, acontece que eu queria mesmo sabendo que mais na frente algo pudesse me decepcionar. Eu sentia que Yasmim não seria minha pra sempre, mas só queria aproveitar esse momento que a vida nos proporcionava.

   Aqueles dias estavam demorando pra passar, falava quase todas as madrugadas com Yasmim. Combinamos de que eu iria buscá-la na sexta e voltaríamos no domingo. Só de pensar que teria um fim de semana completo com ela do meu lado, me sentia feliz e bobo.

   Fiz questão de ir pessoalmente até a cidade, aluguei a casa, ficando com a chave. Estava tão ansioso que contava até as horas, seria breve, logo, eu iria surpreendê-la e fazer diferente, fazê-la não esquecer nunca mais daqueles dias.



Yasmim...

_Mãe, já está tudo aqui no balcão, não preciso de mais nada. – rolei meus olhos impacientes enquanto minha mãe mexia naquela arara de camisolas penduradas.
_E quem disse que é pra você? Já separamos as suas coisas, agora vem cá me ajudar. – Olhou para a vendedora – Querida, traga essa camisola no meu tamanho que você já conhece.

   Enquanto a atendente saia para buscar a camisola, minha mãe andava pela loja de lingeries. Olhou para uma meia 3/8 fina, branca, segurou-a entre os dedos.

_Querida, combinaria com suas coxas torneadas. Porque não leva?
_Fala sério mãe, vou me sentir uma puta usando isso. Nem vem. – Espalmei as mãos no ar, evitando algum contato com aquela peça.
_Ai Yasmim, vocês jovens... Um dia vai precisar pra acender a chama do casamento, ou você acha que irão ficar só no “feijão com arroz”? homem gosta de mulher que improvise na cama. Veja só, seu pai me deixou e ainda assim eu tentei até os últimos dias.
_Vai querer falar daquele traste? Se for me avisa antes, saio correndo de perto de você.
_Tudo bem. – Olhou para a vendedora que se aproximava – Venha, quero provar a minha camisola antes de comprar.

   Fiquei sentada em um puff perto dos provadores, não me sentia bem com minha mãe ali, estava morrendo de vergonha e pra variar a ouvia falar para as atendentes : “Sim, minha bebê está se tornando uma mulher, quero as lingeries mais sensuais que vocês tem.” Em seguida as vadias se aproximando com vários espartilhos, meias, calcinhas fio dental. Talvez se Anne e Larissa estivessem do meu lado, tudo seria mais engraçado.

_Achei um pouco apertada, mas adorei. – Minha mãe saiu do provador com uma camisola linda de seda. Fiquei boquiaberta, o corpo dela era maravilhoso, dava surra em muitas meninas por aí.
_Ficou legal, eu gostei.
_Você gostou mesmo Yasmim?
_Claro mãe.
_Então vou ficar.

   Depois disso, ela provou mais quinze camisolas, indecisa como sempre. Antes de fecharmos a conta, ela ainda pegou duas calcinhas fio dental.

_Embrulhe pra presente querida.
_Vai dar pra quem mãe? Calcinhas fio dental?
_Sua irmã também merece presentes, larga de ser egoísta.

   Saímos de lá com várias sacolas nas mãos. Durante o caminho, tentei conversar com ela.

_Porque você compra essas lingeries e camisolas sexy? Você nem vai usar.
_Não é porque eu estou sem ninguém que não posso comprar pra elevar minha auto-estima, Yasmim. Gosto de me sentir bem, vantagens de você arranjar emprego é isso.  

  Depois que ela começou a trabalhar ficou assim, já usava maquiagem, comprava roupas, sapatos. Até que tava gostando de vê-la assim, muito melhor de quando estava trancada no quarto, chorando, em depressão.

  Paramos em frente à Senhora Duarte, a escola de danças onde eu fazia balé.

_Se importa se ir pra casa sem mim mãe? É que Dona Marly quer que eu adiante umas coisas pra apresentação e como não vou estar sexta-feira a tarde faltarei o ensaio.
_Tudo bem. Vem cá – Beijou minha bochecha – Não importa quantos anos você tenha, ou se vai perder a virgindade, você sempre será minha menina.
_Para mãe! Que mico tô pagando.

   Empurrei-a de leve, sorrimos juntas e entrei, fui direto pro trocador colocar meu collant, meia-calça rosa e a minhas sapatilhas de ponta, senti o meu celular tocar, uma mensagem:



“Ansioso para poder te ver sexta e matar a saudade.”

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