Capitulo 24



  Yasmim parou de fazer “voltas” no macarrão com o garfo, ergueu o olhar, me fitando.

_Está bom de pararmos com esse assunto, né?
_Desculpa, não era minha intenção.

  Eu estraguei a nossa noite, sentia isso. Terminamos quase na mesma hora, ela levantou-se, pegando nossos pratos e levando-os até a pia.

_Quer ir comigo passear na praia?
_Estou cansada. – Não me olhava enquanto estava lavando os pratos.
_Vou te esperar na varanda.

   Fui para a varanda, me sentei em uma cadeira ali. Aquela noite estava perfeita, mas minha curiosidade colocou tudo a perder, cedo ou tarde, Yasmim teria que falar sobre o pai.

_Vamos. – O som da sua voz me acordou dos pensamentos.

   Andamos pela praia com nossa mão entrelaçada. Silencio, era isso o que estava nos afastando, cada um em seu pensamento, em seu mundo. Yasmim foi reduzindo os passos, a lua cheia traçava um perfil no seu rosto em meio a escuridão do local. Ela parou, ficou na minha frente, seu rosto estava virado para o mar enquanto começava a falar:

_Já tinha te falado do meu pai. – Pausou alguns segundos – Sabe quando você tem tudo e de repente sua vida desmorona? Foi isso o que aconteceu. Éramos uma família linda, invejável por onde quer que passássemos. Meu pai era o cara mais perfeito que eu tinha como exemplo, trabalhador, bom esposo, pai dedicado, mas de repente começou a circular pela cidade com uma vagabunda. É chato sabe, você ouvir das suas amigas que viram seu pai comprando sapatos de luxo para a secretaria dele, que ele sempre viajava nos fins de semana com a dita cuja.

   Sentamos na areia, logo ela retomou a conversa, em momento algum me encarou, seu olhar estava voltado para o mar.

_A sociedade gosta de viver de aparências e foi assim que ficamos nos últimos meses da vida dele ao nosso lado. Minha mãe sabia ou ouvia falar das “escapadinhas” dele, mas em momento algum se pronunciou sobre isso comigo e com Isabela. Em uma noite, ele chegou do trabalho e decidiu pular fora do barco, disse que iria viver a vida com a vadia dele.

  Yasmim baixou a cabeça e pude ouvi-la fungar, estava chorando.

_Minha tristeza não foi ele ter ido embora, mas pelo buraco que deixou. Minha mãe começou a não querer sair, entrou em depressão e cada vez que chegava as dividas, ela se desesperava. Imagina você, ela dependia do meu pai e aí do nada, ter que ver as dividas chegarem e não saber pra onde correr. – Ela ergueu o rosto, limpando as lagrimas – Mas como ela mesma diz, por nós, eu e Isabela, ela saiu da depressão e com a ajuda de alguns familiares, arranjou um emprego onde esta até hoje.

  Limpei minha garganta para que minha voz não saísse rouca.

_Ela é um exemplo de mulher.
_Mas antes de se tornar esse exemplo, ela já tentou fazer besteiras na vida.
_Tipo?
_Tentar suicídio por duas vezes. – Voltou a chorar, olhou para o céu, achando que ele fosse fazê-la cessar aquele choro – Nessa época eu já estava certa de trancar a faculdade, foi quando Isa exigiu que eu não fizesse isso e acabou pagando minha faculdade com uma economia que tinha no banco... Era o dinheiro da formatura de faculdade dela.

   Dessa vez o choro de Yasmim foi obvio, abracei-a de lado, puxei sua cabeça para encostar-se em meu ombro, ficamos nesse silencio por alguns minutos. Aos poucos seu choro foi parando, ela levantou a cabeça, afastou-se um pouco de mim.

_Chorar lava a alma, olha como estou bem melhor. – Sorriu para mim – Eu nunca tinha falado sobre isso a ninguém, queria desabafar mas não conseguia.
_Me sinto culpado pela suas lagrimas.
_Não sinta, você tirou um peso de mim. Uma hora ou outra eu teria que falar com alguém né?
_Vamos pra casa, tá muito frio.

  Voltamos para casa abraçados. Subimos para o meu quarto e liguei a TV.

_Vih, porque não trouxe o violão?
_Desculpa meu anjo. – Deitei do seu lado – Realmente eu esqueci.

  Ela se aninhou em meu peito.

_Tô com fome. – Esticou o lábio inferior.
_Agora é sua vez de ir pra cozinha.
_Espera aqui.

 Ela desceu e ficou por lá longos minutos.



Yasmim...

   Já não me sentia tão mal assim, precisava falar com alguém e Vitor era a pessoa ideal para isso.

   Relembrar alguns fatos tristes da minha vida me fazia querer esquecer, parecia um filme dentro de minha cabeça, as lembranças pareciam tão frescas que é como se eu estivesse revivendo-as.

   E lá estava eu, parada no meio da cozinha. Fucei os armários para saber o que Vitor trouxe para a viagem, eis que achei os ingredientes certos. Liguei o fogão e fiz brigadeiro, subi com a panela e duas colheres.

_Sou boazinha e vou dividir contigo.

   Sentei na cama e juntos, devoramos tudo o que tinha na panela. Aquela noite estava diferente, estávamos deitados, abraçados, assistindo filme... Fazendo coisas de casal meloso. Já sentindo que o sono iria me pegar de jeito, fui até meu quarto e coloquei uma camisola de seda, ao voltar percebi que Vitor tinha tirado as roupas, ficando só de cueca. Entrei no lençol, me aninhei em seu peito.

_Você está tão linda nessa camisola. – Beijou o topo de minha cabeça.
_E você bem que poderia sair assim no meio da rua... Adoro te ver de boxer.

   Rimos ao meu comentário ousado. Acho que nem assistimos ao filme por inteiro, só sei que dormimos com a TV ligada, percebi isso ao acordar quatro da madrugada com aquele barulho vindo dela, desliguei e voltei para os braços de Vitor.

   Abri meus olhos e vi a claridade invadir o quarto, encarei o teto, pensativa. Hoje era o ultimo dia em que ficaríamos nesse paraíso. Porque as coisas boas passam tão rápido em nossas vidas? Só queria voltar o filme e ainda estarmos na sexta-feira.

_Pensativa, logo pela manhã?

   Vitor ficou de lado, passou uma das mãos em minha barriga e ficou acariciando a região.

_Bom dia pra você também meu amor. – Fiz um meio riso.

   Não sabia ao certo que fim daria a nossa historia, eu só queria ser feliz naquele momento. No fundo, queria que Vitor ficasse na minha vida para sempre.

   Senti sua respiração próxima a meu pescoço, ele distribuía selinhos que me faziam arrepiar.

_Seu cheiro assim que acorda... Me deixa louco.

   Fechei os olhos achando que tudo o que estava vivendo não passava de um sonho e que logo iria acordar na minha cama fria daquele apartamento.

_Com fome? – Ele parou de me beijar e apoiou-se em um dos seus cotovelos.
_Muita.

   Levantamos e juntos fizemos o café da manhã, após tomarmos nosso desjejum, coloquei meu biquíni e fomos para a piscina. Aquela água estava fria, mas nada como um sol maravilhoso de dia de domingo e um Vitor Chaves do meu lado para me esquentar.

   Fiquei na beira da piscina, vendo-o dar alguns mergulhos, e depois vendo-o vir em minha direção.

_Você está em falta comigo, Vitor.
_Eu? Em que?
_Em varias coisas. Não trouxe o violão... Não fez amor comigo ontem a noite. – Mordi meu lábio inferior.
_Aí, você tem que acalmar esses seus hormônios.

   Rimos sem parar por alguns segundos. Ele se aproximou de mim, colocando os braços em cada lado da beira da piscina, me impedindo de sair para onde quer que fosse.

_Depois quero transar na piscina.
_Acho que vai ter que ficar pra uma próxima.
_Isso quer dizer que terá outros finais de semana assim como esse?
_Sim. – Ele fez um meio riso. – Eu fiz o que você gosta. Da próxima iremos para um lugar que eu gosto.
_Seria o campo?
_Um hotel fazenda, porque não.
_Vou adorar.  

  Sorrimos, estava me sentindo uma boba, mais do que já era. Aquele silencio da manhã, o barulho da água em nossos corpos, era um momento de paz.

_Baby, você é tão linda que nem sei... – Ele cantarolou.

_Oi? – O acordei do transe.

  Ele baixou a cabeça e fez um meio riso.

_Esquece. Coisas minha.

  Não sei por que, mas aquela frase sendo cantada por ele mexeu comigo. Eu queria um dia que alguém fizesse uma canção para mim.

_No que está pensando? – Ele me tirou do transe.
_Esquece. Coisas minha.

   Rimos com a repetição daquela frase. Envolvi os braços na nuca dele e colei nossos lábios, o nosso beijo era um misto de salgado por conta da água da piscina junto com o trident de morango que eu havia colocado minutos antes de entrar na piscina. Nossas línguas sincronizavam perfeitamente, enquanto isso, sentia as mãos dele saírem da borda da piscina e enlaçar-me pela cintura, apenas não queria que aquele momento acabasse.

_Partiremos no começo da tarde, ok?

  Apenas assenti, continuamos ali, abraçados, em silencio.

_Antes de sairmos terá uma despedida na cama? – Morri de vergonha comigo mesma por estar sendo tão depravada e insinuante.
_Já falei – Afastou o rosto para me encarar – Você tem que controlar esses seus hormônios.

   Mais uma vez me peguei rindo e o abraçando mais, encostei minha cabeça em seu ombro, toquei com os lábios sua pele. Como seria a minha vida agora longe de seus beijos, suas carícias?


  Me afastei dele e saí da piscina, sentei na cadeira que tinha ali para me enxugar e tomar um sol. Vitor veio em seguida, sentou do meu lado e ficamos namorando por alguns minutos. Se ele achava que eu iria deixar passar aquela nossa despedida, estava enganado.

...

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