Capítulo 28



 Meu coração disparou, olhei para Ariane e Larissa.

_Morango, você tá bem?
_Ele veio me buscar.
_É mesmo, onde ele tá? Chama ele pra tomar uma cerveja com a gente. – Larissa fez um riso irônico enquanto terminava a frase – Acho que ele curte uma cervejinha já que trabalha em um mercado, né?
_Vou nessa. – Me levantei.
_Poxa Morango. Manda beijos nele por mim.
_Valeu Anne.

   O bar estava um pouco cheio e tive que me esbarrar em algumas pessoas para ir até o carro, alguém segurou meu braço e me girou, meu corpo foi de encontro ao de Murilo.

_O que você ta fazendo?
_Você estava divina hoje, eu quero você Yasmim.
_Murilo, me solta. – Tentei sair de perto, mas ele me puxava mais para si.
_Não, hoje eu te quero. – Ele estava visivelmente bêbado

   Não sabia o que fazer, queria me soltar, olhei para o carro assustada, estávamos na porta do bar. De repente, vi a porta do carro se abrir, Vitor iria vir para me defender, antes disso me soltei bruscamente das mãos de Murilo.

_Me solta, caralho!
_Você gosta de mim e quer voltar.

   Sair correndo em direção ao carro, Vitor já estava com o corpo do lado de fora do veículo.

_Entra no carro – Ordenei
_QUEM É ESSE CARA?!
_Cala a boca Vitor, entra no carro agora!

   Entramos no carro, eu apenas queria que ele girasse a chave e juntos, saíssemos dali, mas ele me encarou, nos seus olhos tinha fúria.

_QUEM ESSE CARA PENSA QUE É PRA TE AGARRAR?
_Não é ninguém, apenas liga esse carro e vamos sair daqui...
_ME FALA AGORA YASMIM!
_VITOR, CALA A BOCA E ME TIRA DAQUI!

   Sem questionar mais nada Vitor ligou o carro e saiu para bem longe daquele bar. Seus movimentos no volante eram ásperos, demonstrando toda a raiva para comigo. Meus pensamentos estavam confusos, queria gritar, chorar. As mãos de Murilo deixaram certa ardência em meus braços, estava começando a doer. Em um movimento rápido, ele jogou o carro para o meio-fio, estávamos em uma rua esquisita, perto de casas de luxo, ninguém poderia presenciar nada ali.

_Me fala agora quem é esse cara, Yasmim. – Falou enquanto desligava o carro.
_Pra que você quer saber?
_Ele te agarrava com certa intimidade.
_Não viaja Vitor...
_EU PRECISO SABER YASMIM! ESTÁ NA HORA DE VOCÊ SER MAIS ABERTA COMIGO!
_É O MEU EX. ESTÁ SATISFEITO?

   O silencio predominou o ambiente, Vitor já não me olhava mais, estava encarando o volante, suas mãos tremiam.

_Porque ele fez isso com você? – Sua voz saiu rouca.
_Eu não sei... Estava bêbado.
_Ainda se encontram?
_Na-não... Vitor, eu...
_ESTOU FAZENDO UMA PERGUNTA SIMPLES, APENAS RESPONDA!

   Me assustei com aquele jeito dele, Vitor nunca gritara perto de mim. Me encolhi no banco do passageiro e cheguei mais para perto da janela, seu olhar me dava um frio no estomago. As lagrimas caíram em meu rosto, enxuguei-as, minha voz estava embargada, não conseguiria responder nada, apenas fechei meus olhos e ouvi suas mãos esmurrarem o volante.

_E PORQUE VOCÊ FOI PARA AQUELE BAR? ME RESPONDE YASMIM!

   O soluço veio forte e eu me senti culpada por tudo isso estar acontecendo. Permanecemos calados, ainda estava com meus olhos fechados. Procurei forças dentro de mim para me acalmar.

_Larissa e Ariane me chamaram para comemorar. – Minha voz saiu falha.

   Uma revolta tomou meu corpo, se tinha uma coisa que sempre detestei foi namorado ciumento. Não iria deixar isso acontecer.

_Não posso ficar presa na sua vida Vitor, eu tenho uma vida para seguir.
_Então é assim que você pensa?
_Me desculpa, mas nosso relacionamento é algo indefinido, não vou ficar em casa enquanto você viaja e sabe-se lá o que faz com qualquer fã ou mulher que apareça na sua frente.
_Como você pode falar isso, Yasmim? Eu abdiquei de várias coisas para estar aqui essa noite e é isso o que me joga na cara? Não parece a Yasmim de oito dias atrás, me jurando amor, procurando-me para satisfazer seus desejos...
_Dois não faz se um não quer.
_Espera. – Deu uma pausa e logo voltou com o tom da voz alterado – é isso o que você pensa da gente? Nosso relacionamento é algo descartável e nada mais? Eu não acredito no que estou ouvindo. – Encostou-se no banco e colocou uma das mãos no rosto.
_Eu não vou parar minha vida por sua causa, Vitor, entenda isso.

   Mais uma vez o silencio predominou. Não conseguíamos falar mais nada, eu apenas olhava para frente, aquela rua, praticamente deserta, era assim que meu coração estava... Sem Norte.

_Vou te levar pra casa. – Ligou o carro.
_Espera. – Toquei sua mão levemente.
_O que é. – Ele mal me encarava. No seu rosto estava a decepção.
_Não vamos brigar por besteiras. O Murilo não vale isso.
_Com uma condição – Desligou novamente o motor. – Esta noite, teremos que esclarecer tudo, tudo Yasmim.
_Certo.

   Soltei meu cinto e esperei ele me abraçar, mas ele estava muito pensativo para fazer algo. Seu cotovelo esquerdo apoiou-se na janela, levando a mão até a sua nuca, pensativo.

_Murilo... – Iniciei a conversa após tomar coragem – É um ex ficante, ele faz faculdade, sempre nos esbarramos mas depois que te conheci pessoalmente, não quis mais nada, eu juro Vitor. Peguei-o no flagra com uma garota e acabei o que nem tinha começado. O que ele fez hoje foi a primeira vez.
_Não fique em locais que ele esteja. – Foi frio, apenas ordenou, não foi uma sugestão.
_Não fica assim Vitor... – Toquei seu ombro. – A noite foi tão perfeita pra mim, não queria estragar.

   Com a expressão mais seria que vi em toda minha vida, Vitor me encarou, não me perdoava, eu sabia disso.

_Está complicado Yasmim. Eu estou confuso, isso nunca aconteceu comigo, eu sou um cara totalmente na minha, jamais faria algo de ruim com alguém.
_Eu sei, por isso fiquei com medo de você descer e bater no Murilo. Eu só não queria encrenca pro seu lado, Vitor. Tenta entender.

   Encostei minha cabeça em seu ombro, minhas mãos percorreram por seu corpo, nas suas coxas, toquei de leve e senti seu corpo estremecer e logo Vitor segurar meu queixo para que o encarasse.

_Eu te amo, Yasmim. Sei que vai ser difícil para nós dois, mas me ajuda nessa?

   Apenas assenti com um meio riso, meus lábios tocaram nos seus, cedi passagem para sua língua me invadir, nos posicionamos melhor para que nossas mãos ficassem livres. Vitor finalizou o beijo e ligou o carro.

_Tenho que te levar pra casa.
_Mas pensei que iríamos dormir juntinhos.
_Não dá. – Olhou para o relógio em seu pulso – Prometi para o piloto do jatinho que partiríamos às onze e meia dessa noite, mas acho que não chegarei a tempo na capital.
_Dorme aqui então.
_Não posso. Tenho compromissos bem cedinho amanhã. Mas te prometo que segunda-feira estarei aqui e dormiremos abraçados, ok?

   Estava triste e feliz ao mesmo tempo. Feliz pela nossa reconciliação, triste por não poder ter Vitor 100% na minha vida. O trajeto até o apartamento permanecemos calados, cada um com seu pensamento.

_Chegamos. – Tocou meu joelho.
_Obrigada pelas rosas vermelhas, mas o cartão foi o que mais me chamou atenção.
_Ali estão minhas singelas palavras.

   Nossos olhares fixaram por alguns segundos. Tinha tanta coisa para dizer, mas nem sabia por onde começar.

_Promete que não vai esquecer-se de mim?
_Claro, Yasmim. Prometo que estarei na segunda-feira aqui.
_Eu tenho que ir.

  Apenas depositei um selinho, algo estava estranho entre nós, havia uma parede invisível que me impedia de ter mais contato com ele. Me aproximei do portão do edifício sem olhar para trás, ouvi sua buzina e ao me virar, ele estava saindo do veículo, veio em minha direção. Ainda sem acreditar senti seus braços envolverem minha cintura, nos entregamos a um beijo profundo, com amor, paixão... Eu estava o amando a cada dia que se passava.

_Te amo. – Depositou um selinho em meus lábios – Não esquece.


   Ainda inerte, sem forças para dar um passo a mais, eu vi aquele carro indo embora e junto, meu coração que já pertencia a ele.

...

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