Capítulo 31


  Praia, aquela mesma em que estivemos semana passada. Apenas eu e Yasmim, abraçados, caminhando por ali. Foi esse sonho que me fez relaxar a noite enquanto dormia.

  Senti aquelas mãos leves tocarem em meu ombro, abrindo meus olhos pude ver a visão mais perfeita.

_Vih, são cinco e meia da manhã. Acorda, daqui a pouco minha mãe vai levantar.

  Um sorriso formou em meus lábios, aproveitei Yasmim naquela posição – Agachada na beira da cama, de joelhos, próxima a meu rosto. – E acariciei seu cabelo.

_Te amo. – Sussurrei

  Dessa vez ela quem fez o sorriso para mim, beijou minha mão que estava entrelaçada na dela.

_Também te amo muito.

  Enquanto levantei e fui ao banheiro, Yasmim foi até a cozinha. Lavei meu rosto para retirar aquele cansaço, olhei-me no espelho, a expressão em meu rosto era de felicidade, mas por quanto tempo durará?

  Saí do banheiro e senti sua mão me guiando para o quarto, novamente. Estando dentro dele, ela trancou.

_Vamos tomar café aqui mesmo no quarto, pode ser?
_Claro que sim Yasmim, não precisava se preocupar. Por mim, eu tomaria na estrada.
_De jeito algum eu te deixaria fazer isso.

   Em cima da cama já estava a bandeja, fizemos nosso desjejum entre selinhos, comidas na boca, sorrisos. Algo me incomodava, eu precisava iniciar o assunto, ou melhor, vários assuntos:

_Porque você guarda camisinhas na gaveta? Tem algum namorado?
_Sim. – Ela fez um gesto afirmativo com a cabeça bem empolgada. De certa forma, isso me dera um medo.
_Yasmim, estou falando sério.
_Eu também, oras. – Mordeu sua torrada com os olhos fechados. – Sabe... Ele é ciumento, mas faz composições perfeitas. Canta, toca violão e é muuuito famoso. Acho que o Sertanejo mais cobiçado. – Permaneci sério, esperando mais explicações. Ela entendeu e voltou a falar – Seu bobo, eu ganho essas camisinhas das minhas amigas, de palestras que participo... Enfim.

   Aliviei minha tensão com um meio sorriso, que apareceu involuntariamente. Trocamos olhares e como um choque, meu sorriso se desfez.

_Você vai para a festa que suas amigas te chamaram?
_Acho que sim. – Não me olhou, tinha voltado a comer. – Depois que comecei a sair com você nunca mais fui a uma balada.
_Ok

   Terminamos nosso café da manhã assim, em silencio. Definitivamente, não estava gostando nada dessa historia. O pior de tudo... Não podia prender Yasmim.

_Você bem que poderia ir comigo, né?
_Você sabe que não gosto disso, Yasmim.
_Claro que sei Vitor, mas sei lá, ficaríamos cinco minutos, depois iríamos embora.
_Sábado tenho um jantar na casa de um amigo.
_Poxa, então fica pra uma próxima.

   Enquanto, Yasmim tomava banho, eu fiquei no banheiro, apenas observando-a encantado, minha menina agora tinha um corpo de mulher. Usei sua escova dental e fiz minha higiene.

  Voltamos para o quarto entre risos e selinhos. Aquele encanto estava acabando, já era a hora de sair dali e seguir a estrada, o trabalho me chamava.

_Porque você tem que ir logo agora, bem cedinho?
_Trabalho, Yasmim. – Sentei na cama, observando-a se trocar.
_Só quero saber quando teremos outro fim de semana juntos.
_Logo, eu te prometo. – Levantei-me, fui em sua direção, abracei-a por trás, trocamos olhares pelo espelho – Acho que essa é a hora em que você me leva até a porta. Eu tenho que ir antes que sua mãe acorde.

   De mãos dadas, descemos até a portaria. Yasmim puxou minha mão, ficamos frente a frente.

_Quando puder, vem me visitar Vitor. Estou muito carente esses dias.
_E você acha que eu não? – Retirei uma mecha de seu cabelo, colocando-a por trás da orelha.

   Abraçamos-nos e ficamos assim por longos segundos, segundos esses que eu não queria que acabasse. Ela afastou seu rosto e de encontro ao meu selou nossos lábios com um beijo terno, cheio de paixão. Nossas línguas se moviam perfeitamente.

_Agora vai.
_Promete que não vai esquecer de mim, Yasmim?
_Nunca, em momento algum.
_Sendo assim eu vou nessa.

  Entrei no carro e voltei para o hotel, parando no estacionamento senti meu celular que prontamente apitou:

“Já olhou no banco do passageiro? Deixei uma surpresa. ;)”

   Ainda com o celular em mãos, olhei para o local onde a mensagem indicara, apenas sorri como um bobo. Uma calcinha na cor lilás, cor da sua camisola que usara naquela noite, ali em cima do banco. Segurei a peça e como um homem bobo e entorpecido pelo amor, coloquei-a no bolso da minha calça. Era engraçado como ela me fazia tão bem, bem até demais.




Yasmim...

  Despedidas entre eu e o Vitor eram ruins, é como se uma parte de mim fosse embora.

  Voltei para meu quarto, seu perfume estava estampado nos lençóis, no travesseiro, na cama. Lembrei que não tinha avisado a ele sobre a minha surpresa que fiz na noite anterior: desci para vê-lo com a calcinha na mão, ao entrar no veiculo, deixei-a no banco, sem que ele percebesse. Mandei uma mensagem aos risos bobos, recebi outra como resposta:

“Ah Yasmim, cada dia me surpreendendo mais. Te amo.”

  Fui para a faculdade caminhando, em passos lentos, apreciando cada parte do dia que só estava começando, na porta já via Ariane e Larissa, ambas com os braços cruzados envolta do busto, esperando alguma satisfação minha.

_Bom dia meninas.
_Bom dia nada, Morango. Explica aí esse seu lance com aquele homem.

  Olhei ao redor, alguns estudantes que estavam chegando ouviam a nossa conversa.

_No intervalo conversamos.

   As primeiras aulas não consegui pensar em mais nada, Ariane e Larissa me olhavam estranho, talvez elas estivessem desconfiadas que o “Daniel” era o Vitor. Um medo percorreu pela minha espinha, não prestei atenção em nada. Enquanto lanchava, durante o intervalo, Anne puxou-me para um lugar mais reservado.

_Fala agora quem é aquele cara.
_Meu namorado, por quê? – Sentia minha voz ficar trêmula.
_Das duas, uma: Ou ele tá mentindo pra você ou você está mentindo pra gente.
_Caralho qual é a de vocês? – Encarei as minhas duas amigas.
_Morango, nós só estamos preocupadas com você.
_Querida, aquelas roupas de grife que ele usava ontem, mostrou que ele não trabalha em supermercado nem aqui, nem na china.
_Do que você está falando, Lari?
_Até eu que não sou antenada no mundo da moda percebi, Morango. Pode se abrir conosco, ele é casado?

   Por mais tensa a situação em que me encontrava, eu relaxei e senti meus lábios se abrirem para dar espaço a um sorriso de alivio. Elas não desconfiaram nada sobre ele.

_Porra Yasmim, porque não falou conosco?
_Vocês poderiam não gostar muito né?
_Olha Morango, não temos nenhum preconceito. Amiga é pra isso, se esse cara é casado ou não isso não convém, o que importa é a felicidade estampada no teu rosto.
_Valeu Anne.
_E vale lembrar que eu tive um caso com o Marcelo. Lembram? Aquele dono daquela pizzaria? Ele era casado e vocês ficaram do meu lado até os últimos momentos. – Larissa e seus amores.

  Abracei-as com força, sabia que poderia contar com elas. Ao se afastar de mim, Ariane demonstrou preocupação.

_Só tem um porém Morango. Não entra nesse relacionamento com tudo ok?
_Mas por quê?
_Olha a diferença de idade de vocês. Agora ele te deixa livre, amanhã vai querer te pressionar, ficar obsessivo, exigir coisas de você, vai ter ciúme dos teus amigos. Falo isso por experiência própria.

   Me senti mal, uma dor inexplicável tomou conta de mim. No fundo, eu sabia que Ariane estava certa, Vitor já demonstrava ciúmes, queria manobrar minhas saídas para festinhas com as amigas.

   Nas ultimas aulas foquei na prova que estudara na noite anterior, cada questão me faziam lembrar dos beijos de Vitor e assim fechei todas as questões. Saí confiante de que acertaria mais da metade. A volta pra casa, caminhando em passos lentos eu começava a analisar todo o conselho que as minhas amigas me deram. Será que eu seria feliz um dia com Vitor? Será que ele sentia o mesmo sentimento? Ele me amava? Dúvidas e mais dúvidas predominavam em minha cabeça.




Victor...

  Conversando em uma roda de rapazes, estávamos ali, entre amigos, momentos bons assim eram raros. Olhei para a sala daquela mansão, aquelas mulheres conversando, empolgadas, bem vestidas, delicadas... Será que Yasmim um dia estaria ali entre elas?

  A saudade bateu forte, pedi licença para os demais ali e fui para a varanda, aquele vento me traziam boas lembranças, Yasmim entre elas. Disquei seu numero e aguardei ansiosamente, ela atendeu meio ofegante.

_Alô?
_Oi.
_Ah... Oi Vitor, tudo bem? – Falou ligeiramente.
_Tudo... Mas e com você? Está com a voz ofegante.
_Estou procurando meus sapatos...

  Lembrei-me que naquela noite de sábado, ela iria para a tal “festinha” com as amigas.

_Então você vai para a festa?
_Vou. Vitor, importa se me ligar depois? Estou muito ocupada, ainda não me maquiei, Ariane já já aparece por aqui e nem troquei de roupa.

 Ela estava me descartando e isso me doeu.

_Fique a vontade.

   Desliguei sem ao menos ouvir sua resposta. Respirei fundo, senti alguém atrás de mim.

_O que houve nego véio?
_A Yasmim...
_Está tudo bem com ela?
_Sim... Até demais. – Desabafei. – Só queria que as coisas fossem diferentes sabe? Eu, ela, nossas idades... Nada se combina.
_Mas os opostos se atraem.
_Não Leo. Eu só queria ter uma oportunidade de tirar Yasmim dos meus pensamentos, mas parece que é mais forte e sempre me derruba, porque estou amando loucamente essa menina.


   O silencio predominou. Estava apenas desabafando, gostaria de tirar aquela menina dos meus pensamentos, da minha vida, mas era algo impossível. Talvez eu já estivesse na vida dela tempo demais, vai ver meu destino só foi ensiná-la algumas coisas que a vida obriga. Eu queria que outra pessoa aparecesse na minha vida, outra mulher que me deixasse tão abalado ao ponto de descobrir em Yasmim mais uma paixão boba e cega... O destino estava me ajudando. Ao virar-me, e olhar para a porta da frente, vi uma linda mulher entrar ali.

...

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